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Leonel Brizola: meu farol

Foto: Leonel Brizola

Paulo Vinícius Coelho

Penso que Leonel Brizola é consenso entre os grupos comprometidos com o Brasil e o seu povo. Por isso, na data em que o caudilho faria 102 anos, reverencio não só o seu extenso e expressivo legado público, mas sobretudo a inspiração causada sobre mim. Tomo a decisão de escrever sobre Brizola em cunho pessoal não por vaidade, mas porque sei que falo em nome de tantos outros brasileiros, membros de pelo menos três gerações tocadas pelo discurso e a obra do gaúcho.

Não lembro quando tive o primeiro contato com a figura de Brizola. Desde cedo envolvido em discussões políticas, ouvia professores, familiares e outras referências pessoais evocando a sua memória, sempre associada à integridade, retidão e contribuição com o país. Era e continua sendo fatal: o argumento que leva o endosso de Brizola tem um prestígio maior. Na faculdade de Jornalismo, até os comunistas intransigentes – ou mesmo os sectários – me ouviam com uma atenção diferente ao mencionar o velho Leonel.

Considero que a “apreciação geral’’ se deve a uma virtude cada vez mais rara entre os políticos: a coerência. Todos dizem defender a educação, mas poucos, como Brizola, o fizeram na prática. Quando governador do Rio Grande do Sul, Leonel liderou a construção de mais de seis mil escolas, conhecidas como “Brizoletas’’, abriu mais de 600 mil matrículas e chegou a aplicar 36% do orçamento estadual na educação. Depois, quando governador do Rio de Janeiro, idealizou, com Darcy Ribeiro, os CIEPs – Centros Integrados de Educação Pública – conhecidos como “Brizolões’’ e até hoje citados como exemplo de escola integral. Na inauguração do CIEP da Favela da Maré, a faixa estendida acima de Brizola afirma o mantra: “direitos iguais para todos, privilégios só para as crianças’’.

Em debate presidencial em 1994, ao ser questionado por Fernando Henrique Cardoso sobre o custo dos CIEPs, caros demais na concepção do tucano, Brizola responde: “caro mesmo é a ignorância’’. Aliás, FHC repetia o que outros tecnocratas comumente alegavam sobre as ideias de Brizola: eram dispendiosas. Em contraposição, Brizola e Darcy respondiam que se não investíssemos o suficiente em educação, teríamos que gastar progressivamente com presídios. O prognóstico, infelizmente, se cumpriu.

Brizola foi defensor da reforma agrária e doou parte das terras da própria família para camponeses pobres; foi democrata e defendeu de maneira tenaz a legalidade; foi nacionalista e encampou empresas norte-americanas em benefício do povo brasileiro; foi líder político dono de uma honestidade ímpar. Coerência. Torno a dizer: é a palavra que define Leonel Brizola.

Quanto a mim, resta dizer: sou brizolista. Discordo da frase “infeliz a nação que precisa de heróis’’, de Bertolt Brecht. Creio que há personalidades capazes de, pelo símbolo e pela obra, reunir bandeiras e esperança. Examinando-as, podemos não só celebrar a sua herança, mas enxergar e apontar para o horizonte, como um farol. Leonel de Moura Brizola é, por isso, o meu farol.

Sobre o autor

Paulo Vinícius Coelho

É Jornalista e atua como assessor de comunicação da Diretoria de Assuntos Culturais da UFMA. Participa desde 2020 da equipe de produção e comunicação do Festival Guarnicê de Cinema. Coordenou a comunicação das últimas três edições do evento.

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