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Futebol e como a violência contra mulher nos atravessa

Foto: Divulgação

Danielle Louise

Futebol é sociedade. Sociedade é futebol. E estão indissociáveis. Ainda que o esporte tenha traços da masculinidade enraizada depois de anos de proibição de mulheres na categoria, elas estão ocupando este lugar.

No entanto, quando se trata do pacto da masculinidade, que por vezes coloca o homem cishetéro como centro da atenção social, o futebol carrega esse traço.

Em pleno mês de março, em que se reflete, coloca-se ainda mais em pautas os direitos internacionais das mulheres, temos dois contrapontos quando se trata de duas figuras emblemáticas do futebol brasileiro e mundial. 

Os dois acusados e condenados por violência contra mulher em países diferentes da Europa. Ambos com o mesmo discurso de culpabilização da vítima. 

Enquanto Robinho, outrora estrela do clube paulista Santos, condenado na Itália por estupro, refugiou-se no Brasil para não cumprir sua setença de nove anos, Daniel Alves foi setenciado pelo mesmo crime na Espanha. Mas este não conseguiu escapar para seu país de origem.

No entanto, as duas histórias de violência que traduzem o pacto da masculinidade, seguiram caminhos opostos. Enquanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que Robinho deve cumprir sua pena de nove anos no Brasil, o Tribunal de Barcelona aceitou o pedido de liberdade provisória para Daniel. Com uma fiança de R$ 5,4 milhões de reais.

São dois casos que exemplificam como as violências contra mulheres são minimizadas. Ainda que o STJ tenha decidido que Robinho cumpra sua pena no Brasil, é válido lembrar que ele vive sob carinhos e afagos da turma futebolística. 

Por outro lado, sobre o ex-lateral direito da Seleção Brasileira, Daniel Alves, os jornais espanhois já citam que o Neymar pai irá pagar sua fiança. Dessa forma, o ex-atleta poderia cumprir sua pena em liberdade provisória.

E o que isso diz sobre violências contra mulheres?

Até quando o futebol irá fingir que é uma categoria à parte da sociedade, a ponto de atletas e profissionais do esporte agirem como se estivessem acima da lei?

O que se vê é que não há educação sobre como homens devem e têm de tratar as mulheres. Não há educação em como os próprios torcedores precisam aceitar que mulheres estão cada dia mais ocupando os espaços no meio do futebol.

Casos como o de Daniel Alves e o de Robinho não são os primeiros e infelizmente não serão os últimos. Temos outro exemplo como do atual técnico do Athletico Paranaense, Cuca, que teve um histórico de violência contra uma menina de treze anos na Suíça. A moça hoje em dia nem viva está mais.

Agora que o crime prescreveu e foi arquivado, o técnico se sentiu no direito de ler um texto protocolar, que teve afago de uma parte do jornalismo esportivo, como se nada tivesse acontecido. 

Daniel Alves, Robinho e Cuca | Foto: Divulgação

A verdade é que essas pessoas deveriam ser exemplos de como não se deve deixar homens agressores de mulheres serem ídolos de absolutamente nada. 

Não é sobre uma punição eterna, mas é uma educação para as futuras gerações que precisam aprender que o futebol não é uma bolha fora da sociedade.

Não tem como ignorar como a vítima de Daniel Alves só pediu justiça. Ela mesma recusou a indenização que seria destinada pelo que sofreu. Mais uma vez repito: ela quer justiça. Assim como tantas outras.

Leia também: Vítima de estupro recusa dinheiro de Neymar doado para ajudar Daniel Alves

É preciso que os homens que amam futebol, falem abertamente sobre como é importante usar suas vozes contra a violência cometida por futebolistas. É necessário que eles se posicionem e não minimizem o fato.

Recentemente o Tite, atual técnico do Flamengo, ex-treinador da Seleção Brasileira, pediu desculpas por ter minimizado a questão do Daniel Alves. É sobre admitir que sim, falou bobagem, refletir e ser aliado contra a violência que sofremos.

Mas até que os homens se levantem em nosso favor, fica a pergunta:

Até quando vamos ignorar as violências que as mulheres sofrem cotidianamente no futebol?

Sim, futebol vai além das quatro linhas. Afinal, “não é só futebol”. Ou é?

Sobre o autor

Danielle Louise

Jornalista pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA; comunicadora popular;  da Agência Tambor; cofundadora e diretora de comunicação do projeto MAI - Mulheres Aprendendo Inglês.

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Angelo Máximo

Excelente artigo, futebol não é uma “bolha” onde esses agressores possam se esconder de seus crimes, sociedade e atletas precisam estar juntos e dar um basta na impunidade.


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