Ed Wilson Araújo
Essa foto é de 1991, na Redação da Assessoria de Comunicação do Sindicato dos(das) Bancários(as) do Maranhão (Seeb), entidade que hoje completa 89 anos.
Eu era recém-formado pela UFMA e tive meu primeiro emprego com carteira assinada na profissão Jornalismo. Foi uma experiência incrível trabalhar ao lado da jornalista paraense Vera Paoloni, veterana da comunicação sindical da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Na virada dos anos 1980 para 1990, o Movimento de Oposição Bancária (MOB), vinculado à CUT Maranhão, assumia o comando da entidade com a nova perspectiva do sindicalismo classista, de luta, independente do Estado, rompendo o modelo corporativo da Era Vargas.
Lá eu conheci pessoas fantásticas. Tu sabias que esse grande artista Beto Ehongue trabalhou no Seeb!? Desde novinho o cara tomava conta da sonorização, do cinema (isso mesmo, o sindicato tinha um cinema!) e dos livros.
“Era público certo. Toda quinta-feira rodávamos filmes que estavam fora do circuito tradicional. Depois criamos também uma sessão infantil, às sextas-feiras, e foi outro sucesso. Eu definia a programação, divulgava, operava o projetor na hora da sessão e preparava a sala. Era totalmente livre pra organizar e até hoje tem gente que frequentava e fala como era legal”, detalha Ehongue.
Outra funcionária inesquecível foi Lucimar Carvalho, hoje destacada advogada nas causas indígenas, inclusive fazendo sustentação oral no STF, durante uma das discussões sobre o Marco Temporal.
Não posso deixar de referenciar Dona Remédios, a mulher da copa e cozinha, com seus maravilhosos café e suco de limão.
Na diretoria, convivi com Acrisio Soares Mota, Aparecida Moreira (Departamento da Mulher), Bira do Pindaré, Bernardo Felipe, Evandro Cutrim, Januário Rodrigues, Josinaldo da Luz, Jorge Cordeiro, Leda Martins, Marcos Vandaí, Rosário Braga, Uílio Oliveira…
Peço desculpas por não citar todas e todos.
Na Ascom eu aprendi muito, desde escrever o texto de uma faixa utilizada nas mobilizações e greves, até revistas e dossiês.
Atravessei fases e equipamentos tecnológicos interessantes. As notícias chegavam por telex, depois via fax (fac símile) e computador só tinha na agência de publicidade (Estação Gráfica) que prestava serviço para o sindicato.
E tínhamos clipping!!!
Havia uma empresa chamada Recoplex, que diariamente enviava os recortes de jornais impressos, em uma encadernação, contendo notícias de interesse do sindicato.
Depois do Recoplex, veio o NewsPaper, bem mais sofisticado. Chegava por fax, diagramado no formato de jornal, trazendo a síntese das principais notícias do Brasil e internacionais sobre economia e política.
As imagens eram dos fotógrafos e das filmagens. Outra empresa, acho que VideoClipping, fornecia todo o noticiário da televisão (em fitas VHS) sobre o sindicato e áreas afins.
Quando íamos fazer um panfleto ou jornal, todos os textos eram datilografados e depois levados em papel para a Estação Gráfica, onde faziam a digitação, diagramação, arte final, fotolitagem e finalmente a impressão.
O Sindicato desencadeou campanhas sociais relevantes, como “Mais Bancários, Menos Filas”; travou grandes batalhas contra a corrupção no Banco do Estado do Maranhão (BEM); defendia com vigor o papel dos bancos públicos no desenvolvimento do país; obtinha vitórias nas causas trabalhistas; motivava o esporte; valorizava a mulher bancária e a saúde da categoria.
Uma das batalhas mais relevantes, com a participação do Seeb, desmascarou a farsa montada pela Alumar e a mídia empresarial para criminalizar Acrísio Soares Mota, Luiz Noleto e outros dirigentes no rumoroso caso Celso Motter, executivo da multinacional. Na época, os militantes foram falsamente acusados de sequestrar e torturar Motter, mas a verdade veio à tona, desmontando a mentira contra o movimento sindical.
O fim do lixão do Jaracati, onde hoje é o Shopping São Luís, também teve o protagonismo da luta bancária, a princípio para preservar a saúde dos funcionários do Cesec (setor de processamento de dados e cheques), mas no geral para assegurar a saúde da cidade.
Tive ali uma escola de formação política, área primordial para botar combustível na luta, lembrando os velhos (e necessariamente atuais) bordões sobre teoria e prática revolucionária.
Havia divergências entre dois grupos que disputavam a formação da maioria e o comando do sindicato. Esse embate proporcionava coisas ruins e boas.
A vitalidade do MOB pôs no campo de jogo a concepção e a prática sindicais. Afinal, sindicato é para lutar, não para conciliar!
Para além do bem e do mal, sobressaía o alto nível dos debates nas reuniões da diretoria executiva, nos longos seminários de planejamento estratégico e nos cursos de formação política.
Aliados essenciais na formação específica para a batalha da mídia, o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e a jornalista Claudia Santiago já caminham com o sindicato em muitas parcerias, fruto do legado de Vito Gianotti e o sonho de disputar hegemonia.
Desde que surgiu, a Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) no Maranhão teve apoio do sindicato.
Foi por essa compreensão da comunicação na luta de classes que o Seeb deu um impulso fundamental no nascedouro da Agência Tambor, hoje uma experiência consolidada de Jornalismo fora do circuito empresarial.
Voltando ao passado, naquele tempo fazia-se análise de conjuntura e o sindicato dialogava com outros movimentos sociais, compreendendo que a luta era da categoria e, junto com ela, da classe trabalhadora.
Eu fumava muito e me excedia no café, porque a Assessoria de Comunicação era um dos centros nervosos do sindicato.
Recentemente, foi inaugurada uma biblioteca em homenagem à escritora Maria Firmina dos Reis, um dos espaços aconchegantes da sede da entidade, na rua do Sol, Centro Histórico de São Luís.
Em 2025, no aniversário dos 90 anos, tem de ter um grande festejo para celebrar nove décadas de uma das mais importantes instituições do Maranhão.
Viva as bancárias e bancários!
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