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São Luís tem futuro? A atual legislatura da Câmara Municipal deixará um legado perverso para a cidade?

Guilherme Zagallo

A qualidade do ar no município de São Luís está péssima, e deve piorar caso seja aprovada a proposta de revisão do Plano Diretor apresentada pelo Poder Executivo e que está prestes a ser votada pela Câmara Municipal de Vereadores.

Com efeito, em agosto de 2021 passou a funcionar a rede pública de monitoramento da qualidade do ar da cidade com seis estações de coleta de dados, cujos resultados estão parcialmente disponíveis para consulta pública pela internet no endereço https://xrtransparencia.azurewebsites.net/#/maps, link externo obtido no site da Secretaria de Indústria e Comércio do Maranhão com dados atualizados a cada 12 minutos.

Ocorre que o resultado mais frequente das medições de qualidade do ar realizadas por estas estações públicas indicam que a qualidade do ar está péssima, que é o pior nível de qualidade do ar previsto pela Resolução Conama n° 491/2018, que também estabeleceu os níveis máximos de cada poluente na atmosfera.

Como exemplo, transcrevemos abaixo a imagem obtida pela consulta a rede pública de monitoramento de qualidade do ar no dia 08/02/2023, às 6:46 h, que registrava naquele momento 5 (cinco)  estações com qualidade do ar péssima e 1 (uma) com qualidade do ar muito ruim:

As referidas estações não informam simultaneamente todos os poluentes monitorados, limitando-se a exibir apenas um daqueles que esteja ultrapassando o valor máximo estabelecido pela Resolução n° 491/2018. Os índices mais frequentes de má qualidade do ar que têm sido verificados nessas estações são dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e ozônio.

A resolução n° 491/2018 estabelece ainda quais os níveis de cada poluente que representam a qualidade do ar como boa, moderada, ruim, muito ruim e péssima, conforme se verifica da tabela abaixo:

Apenas como exemplo, significa dizer que se a estação pública de monitoramento do ar indica o nível péssimo por violação do padrão de dióxido de enxofre, esse poluente está presente numa concentração acima de 800 µg/m3. Apenas para comparação, o padrão máximo desse poluente admitido no país é de 40 µg/m3 (média anual) e 125 µg/m3 (24 horas).

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB avalia que se o índice de qualidade do ar é péssimo, “toda a população pode apresentar sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares”, com “aumento de mortes prematuras em pessoas de grupos sensíveis”, como sintetizado no quadro abaixo:

Em outras palavras, pessoas adoecem e morrem quando o índice de qualidade ar atinge o nível péssimo. Estudos científicos reconhecidos pelo governo brasileiro estimam que quando há mais de 800 µg/m3 de dióxido de enxofre no ar, ocorrem aproximadamente 4 (quatro) mortes por ano para cada mil pessoas expostas a esse nível de poluição. Além dessas mortes, o governo brasileiro também reconhece a validade de estudos que associam a presença de dióxido de enxofre ao grande número de casos de bronquite, pneumonia e doenças agudas.

Essa péssima qualidade do ar decorre da queima de combustíveis fósseis, como o carvão mineral e da poluição veicular. Contudo, pelo perfil de indústrias instaladas em São Luís, a causa mais provável dessa péssima qualidade do ar é a atividade industrial existente em nosso município.

Aliás, a poluição industrial já é responsável também pela contaminação das águas superficiais e subterrâneas em São Luís, bem como da contaminação das águas e dos peixes da Baía de São Marcos por metais pesados. Pode-se dizer que nosso município se encontra em situação de calamidade ambiental.

Contudo, em meio a esse diagnóstico assustador, que pode ser comprovado por qualquer pessoa, a proposta de revisão do plano diretor que está tramitando na Câmara de Vereadores de São Luís prevê a redução da zona rural e aumento da zona urbana. Com isso, será permitida a ampliação da indústria pesada em nosso município e o aumento da impermeabilização do solo, o que causa os frequentes alagamentos e diminui a recarga de aquíferos, piorando a já catastrófica situação ambiental do município.

Uma cidade com qualidade do ar péssima, com águas e peixes contaminados, além de escassez hídrica e alagamentos, não possui futuro para as atuais e próximas gerações. A votação que está para acontecer na Câmara de Vereadores pode colocar nossa cidade em um processo irreversível de autodestruição.

O lucro de alguns poucos que serão beneficiados por essa eventual aprovação não pode ser mais importante que a vida de centenas de milhares de pessoas. A situação de calamidade ambiental que vivemos, somada a ganância de determinados setores pode destruir qualquer possibilidade de futuro saudável para nossa população.

Cabe aos nossos vereadores demonstrarem a quem representam na votação do plano diretor e qual o legado deixarão para a cidade.

Sobre o autor

Guilherme Zagallo

Guilherme Zagallo é natural de Belém (PA) e está radicado em São Luís desde 1983. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (Ufma) tem militância efetiva na advocacia desde 1992, com atuação na área trabalhista. Integrante do Movimento de Defesa da Ilha.

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