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O problema Odylo Costa Filho

Odylo abandonado | Foto: Divulgação

Juliano Amorim e Paulo Vinicius Coelho

Sobre a importância do Odylo Costa Filho, não há muito mais o que dizer: qualquer um que tenha sensibilidade ou inteligência reconhece a relevância do espaço que um dia abrigou o Teatro Alcione Nazareth, a Escola de Dança Lilah Lisboa, a biblioteca Ferreira Gullar e o emblemático Cine Praia Grande. Nas redes sociais, se acumulam relatos de fazedores de cultura consternados com o abandono do equipamento. A movimentação dos artistas, especialmente a partir da reportagem veiculada pela TV Mirante no dia 04 de abril, suscitou discussões e escancarou alguns problemas. O principal, certamente, é o descaso do Governo do Maranhão. Mas, como diria Paulo Leminski, “os problemas têm família grande/ e aos domingos saem todos a passear/ o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas”. Pois bem, é válido mencionar outros “probleminhas’’.

O problema da SECMA – tenho dito: seria honesto com a sociedade maranhense mudar o nome da Secretaria de Estado da Cultura para Repartição de Eventos Eleitoreiros. Há muito tempo a SECMA tem atuado como uma produtora privada, estranha a qualquer tipo de estabelecimento de uma política cultural que preserve as nossas manifestações artísticas, fomente as atividades e dê oportunidade para os artistas. Se o abandono do Odylo não é suficiente para comprovar isso, basta observar como a Secretaria tem conduzido a Lei Paulo Gustavo. O Maranhão foi o último Estado a submeter um plano de trabalho para a aplicação dos recursos e será o último a lançar os editais para a submissão de propostas.

O problema do silêncio – do alto escalação da SECMA pouco se espera, é verdade, mas tem sido difícil lidar com o silêncio dos (bons) servidores da Secretaria e de outros órgãos do governo. Destaco os gestores de casas de cultura. Via de regra, são pessoas competentes, respeitáveis. Eles também têm passado por dificuldades na administração dos espaços pelos quais são responsáveis. Falta infraestrutura, recurso e apoio. De certo, não estão alinhados com essa gestão. Então, por que não se pronunciam?

O problema do “não é comigo’’ – Felipe Camarão foi, até o momento, o único representante do governo a se pronunciar sobre a situação do Odylo. O vice-governador se manifestou, mas pouco esclareceu. Usou a tática do “não é comigo’’ e afirmou que o Governo do Maranhão aguarda (!) a finalização do projeto de restauração feito pelo IPHAN. Odylo Costa Filho? “não é comigo’’; a base governista na ALEMA veta uma homenagem aos movimentos sociais? “não é comigo’’; surge qualquer dificuldade na Educação (pasta pela qual responde)? “não é comigo’’. Tenho estima pelo vice-governador,  mas preciso afirmar: a passividade não deve ser característica de qualquer homem público.

O problema da desqualificação – conversando com um amigo sobre a omissão da SECMA em relação ao Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, ouvi que “Yuri Arruda não deve nem saber quem foi Odylo Costa Filho’’. Não duvido…

Por fim, estar em defesa do Centro de Criatividade Odylo Costa Filho é fazer votos de que este importante aparelho cultural do Estado cumpra – como o fez ao longo de quatro décadas – a nobreza de seu destino: democratização do conhecimento, acesso à educação e estímulo à diversidade cultural, conjugados, e à disposição da comunidade. Surrá-lo, a cada centímetro, descaraterizando-o – até que nada reste além da indignação – é atestar os maus dias da administração cultural que nos é oferecida, em cujo cenário se pressente o deserto de ideias em moda entre os homens públicos do Maranhão, atualmente.

A ala política progressista – na figura de deputados estaduais ou vereadores – pouco ou nada se pronuncia; em um gesto de omissão, por certo condescendente, que desfalca os esforços até aqui somados por forças regenerativas de nossa sociedade.

A permissão do silêncio, nesta luta, autoriza a ignorância e a má vontade com que se parece querer arrastar o problema, até que novos assuntos entrem em discussão, e o Odylo – nobre Odylo, homem das letras, de honradez que a todos nos deveria orgulhar –, seja, como de costume e sem surpresas, um problema para depois.

Sobre o autor

Juliano Amorim e Paulo Vinicius Coelho

Juliano Amorim e Paulo Vinicius Coelho são jornalistas e produtores culturais.

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