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Mãe Kabeca de Xangô 

Danielle Louise

Como já disse Mãe Kabeca “os ancestrais têm a sua força cósmica e nos dão intuições de como proceder, de dar continuidade às nossas práticas, não por meio da violência, mas com simplicidade, humildade e respeito às outras religiões”.

Esta frase encaixa perfeitamente à minha experiência dentro das religiões de matrizes africanas. 2022 foi o ano em que comecei a frequentar a Casa Fanti Ashanti, terreiro de Mina e Candomblé da Nação Jeje-Nagô, fundado em 1954. Iniciei com uma ideia e hoje, tempos depois, já construí uma totalmente diferente.

A espiritualidade ancestral veio por meio de minha família paterna. Tenho sangue de coreira da Mina, minha bisavó, mãe de meu avô. Eles nascidos no município de Alcântara (MA).

Dentro de minha inicial experiência, o Tambor de Mina tem transitado dentro de mim, como jamais poderei explicar. Como disse a Mãe “os ancestrais têm a sua força cósmica e nos dão intuições de como proceder”.

E no Tambor de Mina, em 2023, a Mãe Kabeca de Xangô, a Yalaxé (Mãe do Axé) da Casa Fanti Ashanti, completou 50 anos de sua iniciação na Mina e 70 anos de idade. Seu jubileu de ouro.

Aos 13 anos foi escolhida pelos orixás e voduns para ser Mãe Pequena da Casa, que sucederia a liderança espiritual, Pai Euclides Talabyan.

Ele foi seu grande Mestre e, como ela mesma o chama, também foi seu pai de criação. “Ter sido preparada por ele foi uma grande honra. Para mim, ele foi um mestre, meu pai de criação, meu professor, meu babalorixá. Tive carinho, respeito e a sua dedicação para me dar todo aprendizado”, disse ela. 

Quando o Talabyan faleceu em 17 de agosto de 2015, a Mãe Kabeca tornou-se líder espiritual da Casa Fanti Ashanti. Com a grande responsabilidade em dar continuidade ao seu legado.

O jubileu de ouro da Yalaxé simboliza fé e resistência em um país onde religiões de matrizes africanas são demonizadas e tratadas com desrespeito e discriminação. 

É importante lembrar que em 2022 a Casa Fanti Ashanti foi atacada por fundamentalistas evangélicos. E isto gerou diversas denúncias ao poder público e ao judiciário.

“O racismo, a intolerância são doenças. As pessoas não estão dispostas a compreender nossa religião. A gente até hoje luta por liberdade. A gente merece ser respeitado e o nosso sagrado também”, ressaltou Mãe Kabeca.

Mãe Kabeca na celebração do seu jubileu de ouro na Casa Fanti Ashanti | Foto: Marcio Vasconcelos

Este racismo tem sua origem na colonização. Foram mais de 300 anos de escravidão só no Brasil. Um período em que milhões de pretos e pretas foram sequestrados de diversas regiões do continente africano para serem usadas e negociadas como mercadoria.

A sua cultura e sua religião sofreram um processo de tentativa de apagamento e silenciamento.

E quando tratamos de Maranhão, não podemos deixar de falar do Tambor de Mina. De acordo com historiadores, acredita-se que tenha sido fundado por uma rainha do antigo reino do Dahomé, vendida como escrava para o Brasil.

Toda origem da Mina já possui uma violência que pretos e pretas, assim como os outros mineiros (como são chamados os adeptos ao Tambor de Mina) resistem.

Quando pensamos nos 50 anos de iniciação de Mãe Kabeca, refletimos as transformações que ela mesma relatou em 20 de maio de 2023, dia que foi celebrado seu jubileu de ouro na Casa Fanti Ashanti.

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Lá estavam presentes as ancestralidades vivas, como Mãe Remédios, uma das fundadoras da Casa. É emocionante e importante homenagear nossos mais velhos, pois com eles têm toda a sabedoria da Mina e do Candomblé.

Com muita honra vemos a Yalaxé Kabeca dando continuidade ao legado do Pai Euclides. É possível sentir a espiritualidade da Casa e como ela nos une junto à nossa Mãe de Axé.

São as energias dos voduns e encantados que nos chamam. Nos deixam conectados aos nossos ancestrais. É belo ver nossa Mãe completar 70 anos de vida e mais belo ainda vê-la ter 50 anos de iniciação na Mina. 

Há muita fé, resistência e amor. E foi exatamente essa força, energia e espiritualidade que me chamou a seguir este caminho. Obrigada, Mãe Kabeca de Xangô! 

Sobre o autor

Danielle Louise

Jornalista pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA; comunicadora popular;  da Agência Tambor; cofundadora e diretora de comunicação do projeto MAI - Mulheres Aprendendo Inglês.

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