No início do mês de setembro, a Agência Tambor fez uma entrevista com o advogado Guilherme Zagallo, onde ele afirmou que “nenhuma cidade do Brasil tem tanta poluição como São Luís”.
A publicação do texto em nosso site e em seguida em nossas redes sócias provocou agitação. Houve até quem contestasse. Em consequência da fala e da investigação de Zagallo, no dia 12 de setembro, nós entrevistamos Yanca Santos, que realiza pesquisas no campo da saúde e geografia.
Yanca fez uma dissertação de mestrado, onde ela revelou o aumento de internações hospitalares e mortes, em São Luís, a partir de doenças respiratórias. Seu trabalho, apresentado na UFMA, analisou o período de 2008 a 2018. A partir de sua pesquisa, Yanca disse que São Luís tornou-se “uma cidade doente”.
Fizemos esta semana mais uma entrevista com Guilherme Zagallo, onde ele fala sobre as fontes de suas afirmações e comenta sobre a pesquisa de Yanca Santos, a qual ele também teve acesso.
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Agência Tambor – O que você achou de mais preocupante, nos dados revelados na pesquisa da Yanca?
Guilherme Zagallo – A pesquisa da Yanca identificou, a partir de dados do Sistema Único de Saúde – SUS, a existência de 2 áreas com condições intensamente desfavoráveis a saúde, quais sejam o distrito industrial e o centro da cidade de São Luís. Essa foi a primeira comprovação científica do aumento expressivo da mortalidade por doenças respiratórias no período de 2008 a 2018, que coincide com o crescimento explosivo das emissões de poluentes atmosféricos, sobretudo pela queima em larga escala de carvão mineral por indústrias. Também foi comprovado quantitativamente o aumento das internações por doenças respiratórias nas duas áreas mencionadas. Em outras palavras, o crescimento industrial de São Luís está impondo um preço elevado de vidas humanas perdidas prematuramente.
Agência Tambor – Em relação a recente entrevista que você concedeu para nós, afirmando que nenhuma cidade do Brasil tem tanta poluição como São Luís, diga de onde vem essas informações? Qual a fonte oficial?
Guilherme Zagallo – Os dados vêm dos relatórios mensais de qualidade do ar dos anos de 2021 e 2022, elaborado pela empresa Nano Automation do Brasil, contratada pelo Fundo Estadual de Desenvolvimento Industrial – FDI/MA (Secretaria de Estado de Indústria e Comércio), a partir de dados colhidos na rede pública de monitoramento da qualidade do ar em São Luís, mantida pelas Secretarias de Indústria e Comércio e Meio Ambiente do Estado do Maranhão, que sistematiza e registra os dados exibidos no site https://xrtransparencia.azurewebsites.net/#/maps (Link externo do site da SEINC).
Agência Tambor – Como esses dados vieram a público?
Guilherme Zagallo – Vieram a público somente em fevereiro de 2023, por determinação do Ministério Público Estadual, que havia aberto um inquérito civil público para apurar a demora na implantação da rede pública de monitoramento da qualidade do ar em São Luís, cuja instalação constava há mais de uma década como condicionante da licença de operação do Distrito Industrial de São Luís. Assim que os dados foram anexados no inquérito civil foi dada ciência ao autor da representação e realizada uma audiência pública para divulgação dos dados, que ocorreu no dia 18 de julho de 2023. Até o momento os relatórios mensais não foram publicados nos sites da SEMA e SEINC-MA.
Se mantida a tendência dos anos anteriores temos uma média superior a um nível de emergência diário em São Luís, sem que a população seja informada e nem são adotadas providências para contenção de danos desses eventos críticos.
Agência Tambor – O que a sociedade pretende fazer diante do altíssimo nível de poluição de São Luís?
Guilherme Zagallo – Exigir o cumprimento da lei e das normas ambientais pela SEMA e pelo IBAMA. É inadmissível que tenhamos padrões ambientais ultrapassados em 9300% – noventa e três vezes acima do limite máximo permitido, e mais de um nível de emergência por dia, sem adoção de medidas proporcionais a intensidade desse dano ambiental. Isso significa a identificação das fontes, aplicação de multas, revisão de licenças ambientais já concedidas, determinação de medidas reparatórias, monitoramento epidemiológico das comunidades mais afetadas. Essa poluição do ar já contaminou as águas superficiais, subterrâneas e da baía de São Marcos com metais pesados, contaminando peixes, caranguejos, siris e outros frutos do mar, o que amplia o impacto dessa verdadeira calamidade ambiental para todas as pessoas que vivem na ilha de São Luís.