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Pureza Loyola segue reconhecida por sua luta contra o trabalho escravo

Filme aumentou a visibilidade da luta social

“Infeliz a nação que precisa de heróis”. A frase é atribuída ao escritor alemão Bertolt Brecht (1898-1956). No Brasil – de tanta violência, estupidez e desigualdade – nós ainda precisamos dessas referencias de coragem e virtude.

A maranhense Pureza Lopes Loyola, de 80 anos, segue sendo reconhecida mundo a fora, por seus esforços no combate ao trabalho escravo. No último dia 15 de junho, na cidade de Washington (EUA), ele recebeu o prêmio ‘Heróis no Combate ao Tráfico de Pessoas’, oferecido pelo governo norte americano.

Pureza Loyola recebendo o prêmio

Pureza, uma mulher preta, pobre, que se alfabetizou somente aos 40 anos, com o objetivo de ler a Bíblia, ficou mais conhecida após o lançamento nacional do filme ‘Pureza’, do diretor Renato Barbieri, em 2022.

O trabalho foi inspirado na luta de uma mãe maranhense que, durante três anos, desafiou fazendeiros e jagunços para resgatar seu filho da escravidão contemporânea na Amazônia brasileira.

Vencedor de 30 prêmios nacionais e internacionais, o longa “Pureza”, protagonizado por Dira Paes, conta ainda com a produção de Marcus Ligocki Jr.

Em 2023, a trajetória de Dona Pureza completa 30 anos. Seu empenho em coletar provas sobre trabalhadores em situação análoga à escravidão na Amazônia deu impulso decisivo à criação, em 1995, do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, que uniu auditores-fiscais do trabalho, policiais federais e procuradores do trabalho para viabilizar o cumprimento da lei e a observância de direitos trabalhistas em todo o território nacional.

Entre 1995 e 2021, o Grupo Móvel libertou mais de 62 mil trabalhadores em condições análogas à escravidão. Em 2018, segundo estimativas da Walk Free Foundation, 369 mil pessoas foram submetidas à escravidão no Brasil. No mesmo ano, segundo a OIT, 40,3 milhões de pessoas foram submetidas à escravidão em todo o mundo. No ano passado, a estimativa da OIT para escravizados no mundo subiu para 50 milhões.

A saga de Pureza Loyola


“Os olhos do mundo iriam vê-la “, essa foi a frase ou profecia que Pureza Lopes Loyola ouviu de seu pastor uma semana antes de receber a ligação do diretor Renato Barbieri, com a notícia de que gostaria de filmar sua história de luta contra a escravidão moderna, no ano de 2007. Ali ela decifrou a mensagem: “os olhos do mundo é o cinema”. O filme Pureza já foi exibido, até o presente momento, em 20 países.

Pureza Lopes Loyola nasceu em Presidente Juscelino, município a 85 km de São Luís, e se mudou para Bacabal, a 240 km da capital, onde o marido tinha parentes. Com o fim do casamento, a sobrevivência passou a depender da olaria familiar e da venda de tijolos na qual trabalhava com seus cinco filhos.

Em 1993, depois de meses sem notícias do filho caçula, Antônio Abel, que partiu para a Amazônia em busca da sorte no garimpo, Pureza decidiu seguir seu rastro. Com a roupa do corpo e munida de uma bolsa, sua Bíblia e uma foto de Abel, Pureza estava decidida a encontrá-lo vivo ou morto. Sabia apenas que ele tinha ido ao Pará.

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Em sua busca determinada por Abel, Pureza visitou grandes fazendas e descobriu um perverso sistema de aliciamento e escravidão de trabalhadores “contratados” para derrubar grandes extensões de mata nativa a fim de converter a área em pastagem para o gado.

De fazenda em fazenda, Pureza conheceu de perto o drama dos peões, tornando-se amiga e confidente dos trabalhadores.

Ela conheceu por dentro o sistema pelo qual os empregadores confiscavam documentos de identidade dos empregados e tornavam-nos totalmente dependentes dos encarregados para obter ferramentas de trabalho, víveres e produtos básicos. Ouviu relatos dramáticos de trabalhadores que poderiam ser mortos se tentassem se rebelar ou fugir.

Com a ajuda da Comissão Pastoral da Terra – a CPT, Pureza entrou em contato com o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho no Maranhão, no Pará e em Brasília. Chegou a escrever cartas para três presidentes da República: Fernando Collor, Itamar Franco (o único que lhe respondeu) e Fernando Henrique Cardoso. Até hoje, ela guarda uma cópia de cada uma dessas cartas.
Hoje, Abel vive em Bacabal com Pureza e a família. A política de combate ao trabalho escravo no Brasil se tornou referência mundial.

(Texto oriundo da assessoria do filme Pureza, editado e com acréscimos da Agência Tambor)

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