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Porto no Cajueiro não interessa a cidade de São Luís

Da Agência Tambor
Por Paulo Vinicius Coelho
30/08/2021

Há dois anos, a comunidade do Cajueiro, localizada na zona rural de São Luís, era vítima de uma reintegração de posse que destruiu pelo menos 22 propriedades.

Pressionada pela construção do Porto São Luís, o Cajueiro resiste desde 2014 contra as investidas do capital – com a complacência do poder público – e as arbitrariedades do judiciário.

No último dia 25 de agosto, o Jornal Tambor conversou com os moradores Davi Sá e Carlos Barbosa e o professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Horácio Antunes.

VEJA ABAIXO A ENTREVISTA

Em 1998, aproximadamente 600 hectares do Cajueiro foram contemplados no projeto de assentamento realizado pelo Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (ITERMA). Em 2014, sob forte indícios de grilagem, 200 hectares da mesma área foram negociados pela TUP Porto São Luís.

De acordo com Horácio, a empresa realizou uma única audiência pública, no quartel da Polícia Militar, no Calhau, em claro sinal de intimidação.

O professor afirma que tanto as licenças concedidas pelo governo estadual quanto as decisões judiciárias favoráveis a empresa são questionáveis e culminaram ‘’naquele fatídico 12 de agosto de 2019 quando nós tivemos a derrubada das casas sem o devido rito legal, de forma violenta’’

Davi Sá comenta que ‘’só vai esquecer o que aconteceu no Cajueiro quando morrer’’. Após a traumática reintegração de posse, feita por 180 policiais, os moradores da comunidade foram ao Palácio dos Leões em busca de apoio. Lá, diz Horácio, ‘’foram literalmente varridos numa operação comandada diretamente pelo Secretário de Segurança Pública’’

Depois, a comunidade ocupou a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP). ‘’Fomos em busca de nossos direitos e não encontramos. Fomos recebidos como terroristas’’ comenta Davi Sá.

Durante a ocupação, os moradores tiveram dificuldade para ter acesso a alimentos, colchões e remédios. Segundo Davi, no momento em que o Cajueiro mais precisava de direitos humanos, não encontrou.

Carlos Barbosa, pescador e morador do Cajueiro há 32 anos, declara que ‘’nunca viu violência como a que foi cometida contra a comunidade’’. Ele também afirma que a presença do porto no local prejudicou o extrativismo, a agricultura e o modo de vida dos moradores.

Carlos também cobra apoio da zona urbana de São Luís e reitera que ‘’a luta continua, mas se nós perdermos, São Luís também perde’’

Horácio complementa que ‘’resistência’’ para o Cajueiro não é uma palavra de ordem vaga, ‘’é o sentimento dos moradores mais antigos da comunidade de pertencimento ao lugar onde vivem’’

A obra do Porto São Luís está diretamente relacionada a revisão do Plano Diretor. Horácio afirma que o projeto ‘’foi feito para atender aos interesses de fora, de gente que nos olha como se fossemos colônia’’

O professor acrescenta que ‘’as nossas elites são moleques de recado do grande empresariado internacional’’ e ‘’submetem o povo aos interesses que não são locais na tentativa de ficar com algumas migalhas’’

Davi finalizou reforçando que ‘’o Cajueiro vai continuar resistindo, com pouco ou muito, nós iremos seguir com essa luta e com essa firmeza’’.

🎙️ Veja, em nosso canal no YouTub, a edição completa do Jornal Tambor, incluindo a entrevista com seu Davi e do professor Horácio.

https://youtube.com/channel/UCSU9LRdyoH4D3uH2cL8dBuQ

🎧 Ouça, pela plataforma Spotify, a entrevista de seu Davi e do professor Horácio, ao Jornal Tambor:

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