
A pergunta pelo paradeiro de Manuel de Jesus Freitas atravessa por décadas a sua família e segue sem respostas. O então bebê foi dado como morto nove meses após seu nascimento, em 1972, mas até hoje não há informações conclusivas sobre o fato. A história sintetiza o drama de várias famílias vítimas da política sanitária brasileira contra a hanseníase.
Em outubro de 1972, Joana Terezinha de Freitas, grávida do décimo filho, foi levada para a Colônia do Bonfim, no Maranhão -lugar onde viviam isoladas as pessoas diagnosticadas com Hanseníase (Lepra). Lá nasceu Manuel, logo em seguida foi separado de sua mãe e encaminhado para o Educandário Santo Antônio (Sociedade Eunice Weaver do Maranhão), instituição responsável pelos cuidados do recém nascido, em São Luís, capital do Estado.
Três meses depois, os familiares recebeream uma proposta de adoção, mas recusaram. Em mais alguns meses, então, foram informados que Manuel havia morrido de desidratação — mas não foi apresentado nenhum registro oficial, atestado de óbito ou indicação de onde teria sido sepultado.
O caso desperta inquietações profundas: quantos outros “Manueis” desapareceram sob a mesma política? Quantas famílias vivem até hoje sem saber o destino de seus filhos? Para Dorinha Marinho, irmão de Manuel de Jesus Freitas, a luta vai além da busca pessoal: é também uma tentativa de lançar luz sobre práticas que marcaram a história da saúde pública no Brasil. “Minha esperança é encontrar meu irmão, mas também trazer à tona outras histórias que precisam ser analisadas. Como essas crianças morriam? Onde eram sepultadas? Cadê o papel do Estado em trazer essas crianças para suas famílias?”, questiona.
O caso está sendo investigado pelo jornalista Ed Wilson Araújo e pela médica Marizélia Ribeiro. Em reportagem, publicada no dia 29 de maio, lançam luz sobre outros casos de crianças desaparecidas e adoções suspeitas no Maranhão. Um inquérito foi aberto no Ministério Público Federal, e, segundo o jornalista, tanto inquérito quanto a reportagem reúnem um conjunto de evidências que ensejam o aprofundamento das investigações sobre essa situação.
Enquanto o caso segue sem respostas, segue ainda uma página de dor na história da família Freitas, que sonha reencontrar Manuel.
Confira na íntegra a entrevista do Dedo de Prosa com Dorinha Marinho, irmã de Manuel de Jesus Freitas, e autora de três livros que abordam os dramas vividos com o desaparecimento dessas crianças.