
No dia 18 de dezembro de 2021, o município de Açailândia, no Maranhão, está marcado historicamente pelos horrores e violência do racismo na sociedade. Na data, Gabriel da Silva Nascimento, jovem negro de 26 anos, foi brutalmente agredido por Jhonatan e por sua esposa Ana Paula Costa Vidal. A fúria do casal, movida por acusações falsas e preconceito racial, foi registrada por câmeras de segurança e teve ampla repercussão nacional.
Era cedo quando Gabriel se preparava para uma viagem curta de confraternização, no trabalho. Na porta de sua casa inspecionava uma vazamento no ar condicionado do seu veículo e fazia os últimos reparos antes de partir, quando foi surpreendido pela dupla com socos, chutes e tentativas de sufocamento. Ele estava sendo acusado injustamente de furtar o próprio carro.
Diante dos fatos, o caso ainda inconcluso ganhou um desdobramento inédito: Jhonnatan Silva Barbosa será julgado em tribunal do júri por tentativa de homicídio por motivação racista. “Esse caso é muito raro e muito novo, porque agora é um senhor racista que vai sentar no banco dos réus. Esse banco não foi pensado para essas pessoas. Mas enquanto nós não tivermos também os poderosos nesse banco, nós não conseguiremos discutir em alto nível o tema do respeito aos direitos fundamentais no Brasil.” afirma Márlon Reis, advogado da vítima. Já Ana Paula, que também participou da agressão, responderá apenas por lesão corporal.
O Tribunal de Justiça do Maranhão reconheceu a tentativa de homicídio contra Gabriel. De acordo com a perícia, foi concluído que os atos praticados seriam capazes de matar Gabriel. Sua sobrevivência se deu diante de sua determinação em se desvencilhar do ataque, além da acertada intervenção de um vizinho que informou que o jovem era morador do bairro e proprietário do carro.
O julgamento representa um marco no enfrentamento do racismo estrutural no Brasil e abre um importante precedente para a proteção dos direitos fundamentais no país. Gabriel sobreviveu para contar sua história — ao contrário de outros casos semelhantes pelo mundo. Agora, a vítima espera que o julgamento traga a devida responsabilização dos acusados pelos crimes cometidos.
Na quinta feira, no Dedo de Prosa, programa de entrevista da Agência Tambor, conversamos com Márlon Reis, advogado e assistente de acusação no caso.