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40 anos do Centro de Cultura Negra do Maranhão: pela democracia racial

Foto: Facebook/CCN

Fonte: Giovana Kury/Agência Tambor

No dia 19 de setembro de 1979, em plena ditadura militar – um regime excludente, sobretudo racista – concentrar em um local ancestralidade africana e afrobrasileira parecia um ato revolucionário. E foi. Há 40 anos, o Centro de Cultura Negra (CCN) era fundado no Maranhão. Para contar essa história, o professor Luiz Alves Ferreira – conhecido como professor Luizão, o primeiro presidente da entidade – foi entrevistado nesta quinta-feira (19) pela Rádio Tambor.

Luizão explica que, apesar do contexto ditatorial ser opressivo para toda a sociedade, o movimento negro de 79 era paralelo, com seus próprios recortes e motes específicos. “Nós estávamos continuando a luta dos nossos antepassados”. Então, um grupo de pessoas negras engajados na causa formaram a organização, sem fins lucrativos. A pauta principal, além da democracia, era a democracia racial – e continua sendo até hoje. 

Desde sua fundação, as funções do Centro de Cultura Negra do Maranhão são objetivas e tiveram papel fundamental na história negra do estado. O professor as pontua: “ampliar nossa autoestima como negros; nossa ancestralidade, conhecer nossa história, para saber quem somos; valorizar as religiões de matriz africana; melhorar a educação da juventude; lutar pela titulação das terras quilombolas; e pela saúde”.

Com o fim da ditadura militar e a Constituição de 88, iniciou-se o processo de titulação dos territórios quilombolas no Brasil, e com o tempo outras vitórias vieram no âmbito local – como as cotas estaduais e o curso de Licenciatura em Estudos Africanos e Afrobrasileiros, que tiveram fortes contribuições do CCN. Porém, os alicerces do Estado não mudaram, explica Luiz. “O racismo faz parte da estrutura da sociedade brasileira. O Estado foi montado nessa estrutura” diz, ao referir-se à escravidão. A luta não acabaria tão cedo.

Um exemplo contemporâneo do racismo enraizado, ele explica, é o extermínio da juventude negra. Além de os jovens negros serem as maiores vítimas de assassinatos no país e no Maranhão – segundo o Atlas da Violência de 2019, a cada 100 pessoas mortas no estado, 91 são negras -, o problema do extermínio começa a níveis estruturais, com a falta de escolas e oportunidades de trabalho para comunidades quilombolas, além de conflitos agrários, por exemplo.

 

Por isso, o CCN – cuja luta por democracia racial transcende o tempo, os governos e os contextos históricos – continua firme e forte em suas funções há 40 anos. Desde 1994, tem sua sede entre os bairros do Baré e João Paulo, de São Luís do Maranhão, em um prédio que foi um mercado de escravizados no século XVIII; e hoje conta com uma equipe vasta de assistentes sociais, educadores, advogados, psicólogos, antropólogos e artistas que, juntos, lutam em prol do empoderamento da população negra.

A mensagem que deixa o ex-presidente do Centro é “continuar estudando a nossa história para entender o que é o racismo e continuar a luta pela democracia racial”. O alerta é nunca abrir mão dos direitos adquiridos; e nunca calar perante as desigualdades. “Quase 80% da população maranhense é negra, e qualquer política pública tem que considerar essa estatística.”

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