“Aqui temos a juçara, que serve como alimento e como fonte de renda”.
A fala é de Dona Maria Raimunda, num vídeo divulgou no Fala Quilombola, canal de comunicação digital do município maranhense de São Benedito do Rio Preto.
(Veja ao final do texto, o vídeo de Dona Raimunda)
Moradora do Quilombo Guarimã, uma comunidade centenária, dona Maria Raimunda disse que, mesmo com todas as dificuldades, eles tiram o seu sustento da terra, do que é produzido pela comunidade.
E a Juçara – fruta que sempre foi muito presente no Maranhão, a mesma que no Pará leva o nome de Açaí – é fonte de renda e resistência no quilombo.
Proibidos de plantar
O município de São Benedito do Rio Preto, onde fica o Quilombo Guarimã, é um dos vários locais do Maranhão marcado pela invasão e violência do agronegócio, principalmente da soja.
Foi lá que em 2023, a comunidade tradicional de Baixão dos Rocha ganhou muita visibilidade com casas destruídas e incendiadas, além de homens encapsulados ameaçando famílias de trabalhadores rurais, diante da cumplicidade de policiais militares.
Das quarenta comunidades rurais do município, quase todas têm conflitos de terra.
No Quilombo Cancela, por exemplo, o povo está simplesmente proibido de plantar!
Galinha, porco, buriti e juçara
Mas a resistência em São Benedito do Rio Preto passa também pela cultura e modo de vida, incluindo sua economia comunitária.
Segundo Dona Maria Raimunda, do Quilombo Guarimã, com a venda da juçara é possível comprar outros produtos com o açúcar, o sabão, café e até mesmo arroz e feijão.
“Produzimos também o buriti e a farinha de puba. Temos o nosso açude com vários peixes. Também criamos porcos e galinha, diz Dona Raimunda.
A quilombola afirma que
“toda nossa produção é fonte do nosso sustento diário e uma fonte de renda, para suprir o que falta em nossa comunidade”.
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E a paz no campo????
Raimunda enfatizou que “o que nós precisamos é de sossego e paz para ficar aqui até o dia que Deus nos permitir”.
O apelo de Dona Raimunda é referente a violência que as comunidades sofrem devido a ação do agronegócio.
Em 2023, a comunidade Guarimã denunciou que as águas da região estão sendo contaminadas, decorrentes da ação dos agrotóxicos.
Na época, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão, em nota, disse que “tomou conhecimento das denúncias sobre a possível contaminação dos rios no município de São Benedito do Rio Preto e que a área será objeto de fiscalização nos próximos dias para apurar a situação”.
A contaminação continua. E a comunidade segue resistindo com seu modo de vida, fazendo roça, extraindo juçara e buriti, criando galinha e porco.
Nunca existirá democracia no Brasil sem que o Estado ouça o apelo das comunidades rurais do Maranhão.
(Confira abaixo o vídeo completo de Dona Maria Raimunda)