Enquanto São Luís vive sua paixão pelas festas juninas, a Prefeitura da cidade admitiu, em nota oficial, que o valor pago recentemente com o cachê de Luan Santana foi, em média, 50 vezes maior que o cachê dos artistas ou grupos culturais locais. É um escândalo! E o detalhe é que os artistas da terra podem receber com um atraso de até seis meses, enquanto os shows vindos de fora recebem adiantado.
Foi neste clima que misturou alegria e indignação, que o Jornal Tambor de sexta-feira, 23 de junho, véspera de São João, recebeu Letícia Cardoso, para uma entrevista. Ela é jornalista e professora da UFMA, pesquisadora, estuda e vivencia a cultura maranhense, sendo também coreira e boieira.
A entrevista também contou com a participação de Josemberg Pinheiro (Berg da Pindoba), que cantou algumas toadas e tratou de assuntos relativos à cultura popular do Maranhão.
Ele foi o grande vencedor do Festival de Toadas de São Luís (Festoada), evento promovido pela Prefeitura, realizado em maio deste ano. Berg ficou na primeira colocação geral e também foi o melhor intérprete com a toada “Cidade querida, São Luís do Maranhão” (sotaque de matraca), composta pelo Tenente Geraldino.
Na premiação geral o cantador conquistou a quantia de R$ 10.000,00 e como melhor intérprete o prêmio de R$ 3.000,00.
Berg da Pindoba expôs que, no entanto, até hoje não recebeu a premiação da Prefeitura de São Luís.
(Veja, ao final deste texto, a edição completa do Jornal Tambor com a entrevista de Letícia Cardoso, com a participação de Berg da Pindoba)
A professora Letícia falou da festa, da paixão popular e também da relação desse fenômeno cultural com a política e a economia.
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Ao comentar sobre “a aberração Luan Santana”, a pesquisadora disse que não percebe “vontade política de incentivar e fomentar uma cadeia produtiva da cultura do Maranhão”. E ela acrescenta “precisamos fiscalizar. O dinheiro é nosso”.
Leticia coordena o Grupo de Estudos Culturais da UFMA, que lançou no ano passado o projeto Caminhos da Boiada. O trabalho já se tornou referência e pode ser ampliado, desde que tenha investimento para viabilizá-lo.
A pesquisa mapeou em torno de 90 grupos de Bumba-meu-boi espalhados pela Grande Ilha de São Luís, tratando de suas histórias, rotinas, alegrias e dificuldades. O projeto pode, inclusive, servir como banco de dados para elaboração de políticas públicas voltadas para a cultura do Maranhão.
Na opinião de Letícia, nos últimos dez anos muitos arraiais da cidade de São Luís passaram a ser menos “populares”, com mais “palco”, distanciando os grupos das pessoas. “Não sou contra a mudança. Mas a mudança tem que ser para melhorar”, declarou a professora.
O Outro lado
A Agência Tambor está tentando ouvir a Prefeitura de São Luís sobre a denúncia feita por Berg da Pindoba. Tão logo a Prefeitura responda, nós atualizaremos esta matéria, com a versão do poder público municipal.
(Veja a edição completa do Jornal Tambor com a entrevista de Letícia Cardoso e a participação de Berg da Pindoba)