Por Isabela Melo e Maria Ruth
Sob o amanhecer no largo de São Pedro, grupos de Bumba-Bois e devotos prestam suas homenagens ao Santo padroeiro dos pescadores.
A tradicional festa maranhense em devoção a São Pedro, já dura mais de 70 anos, sendo um marco da cultura e religiosidade do Estado, todo percurso da festividade no Largo da Capela de São Pedro é uma forma de homenagear o Santo. Para os fiéis, é um momento de reflexão e também da renovação da fé, milhares de pessoas tradicionalmente acompanham as procissões, seja terrestre ou marítima.
Os devotos acendem velas e rezam ajoelhados, tocando as fitas da barca da imagem de São Pedro, sempre agradecendo pelas conquistas obtidas e pela obtenção de graças. Os grupos de bumba meu boi também fazem sua parte agradecendo pelo período junino.
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Regina Soeiro, coordenadora da Igreja de São Pedro durante abril de 2011 a março de 2023, comenta um pouco mais das origens da festividade: “A festa de São Pedro, inicia com os antigos pescadores da Madre Deus, na década de 40. E para chegar aos dias atuais, tem toda uma história”, observou.
A ex-coordenadora da Igreja de São Pedro, Soeiro, explica um pouco mais da preparação: “Para a realização do festejo, temos o novenário que é a preparação religiosa com missas, que vai de 20 a 28, para então, celebrar o dia de São Pedro, 29. Que com a preparação, se realiza procissões marítima e terrestre, encerrando com a missa campal”, relatou.
A tradição conta com a reunião dos 5 principais sotaques: zabumba, costa-de-mão, matraca, orquestra e baixada. Todos participam da procissão terrestre, se juntam aos fiéis e fãs e sobem à capela para ficar próximo da imagem de São Pedro.
Regina Soeiro, conta ainda como é a diversidade de público durante as noites juninas na Capela: “ A festa toma uma dimensão de públicos, onde, a maior parte destes, vêm somente para a diversão. É o que se chama de Profano. Com grande concentração no largo. Enquanto os verdadeiros devotos, procuram participar das celebrações religiosas, bem diferente do profano”, pontuou.
José Barros, 60 anos, professor de filosofia e fiel à São Pedro, conta um pouco sobre sua devoção: “Ir à capela nesse ano foi um retorno às minhas tradições. Sempre ia, desde criança com minha vó, na juventude e adulto com os amigos e namoradas, depois de sessentão passei a ir com minha filha”, relembrou.
Além disso, o professor enfatiza a importância dos jovens frequentarem essas festividades, como forma de manutenção da tradição e assim criar raízes na cultura: “Fiquei maravilhado e, também, espantado com a quantidade de pessoas e de jovens. Bom para a conservação da cultura e das boas tradições. Para a cultura significa a continuidade. E sempre estimular aos jovens que participem com segurança e em paz”, comentou.
Barros destaca aqui a forte ligação da sua fé com a festividade: “Ir à capela não significa só olhar as brincadeiras, mas visitar a imagem do apóstolo maior, aquele que vira líder dos outros discípulos e, para nós, o primeiro Papa. Tem, também, o significado de lembrar os ensinamentos da minha avó que sempre nos levava às procissões e eventos religiosos”, relembrou.
O Bumba Meu Boi do Maranhão é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, sendo a maior referência cultural do estado, que hoje já se expandiu para várias partes do país, e se diferencia por constituir num complexo cultural que compreende uma variedade de estilos, multiplicidade de grupos e, principalmente, porque estabelece uma relação intrínseca entre a fé, a festa e a arte. É fundamentada na devoção aos santos juninos, nas crenças em divindades de cultos de matriz africana e nas lendas da região.
Regina Soeiro, pontua ainda sobre o respeito acerca das crenças juninas: “Antes de tudo, ao meu ver como católica, deve-se ter o respeito, sobretudo a essas pessoas denominadas amos dos bumba-bois, que trazem no seu coração, não só o desejo de brincar, mas de louvar a Santo devoto, de cumprir com as promessas. Deve-se voltar o olhar primeiramente para a fé”, opinou.
O festejo da Capela de São Pedro é um evento anual que proporciona um espaço de encontro e intercâmbio cultural entre comunidades, estimulando a valorização das tradições e costumes ancestrais. Durante a festa, as vestimentas, as cores vibrantes e os adornos utilizados expressam a diversidade cultural e ressaltam a importância de preservar a herança dos antepassados.
Essa celebração da ancestralidade fortalece os laços entre as gerações, e reafirma a identidade maranhense, além de promover o resgate e a valorização das raízes culturais. É um momento em que a comunidade se conecta com sua história, mantendo viva a memória dos antepassados e celebrando a riqueza cultural transmitida ao longo do tempo.
Ótima reportagem sobre a cultura maranhense. Somos muito ricos culturalmente e devemos dá o valor devido a ela.
Ótima reportagem sobre cultura maranhense. Somos muito ricos culturalmente e devemos dar o valor necessário a isso.
Excelente reportagem! Mostra como a Festa de São Pedro continua forte.