O novo boletim da Rede de Observatórios da Segurança “Além da floresta: crimes socioambientais nas periferias”, analisa que fazer divisão entre a violência urbana e rural não faz mais sentido. Nos últimos anos, existe uma configuração complexa de periferias rurais, que incluem quilombos e aldeias indígenas.
O relatório com dados de 2020 a 2022 foi lançado no dia 19 de junho, na Universidade do Estado do Pará (UEPA). Com números obtidos, via Lei de Acesso à Informação (LAI), dos estados monitorados pela Rede ( BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ e SP).
No Maranhão, as violações aos biomas nativos da região, além da exploração indevida dos territórios de comunidades tradicionais têm sido um grande problema no estado.
Entre 2020 e 2022, o Maranhão apresentou um aumento de 28,93% nos registros de crimes ambientais, que totalizou 2.568 registros no período.
Dos dez tipos de crimes socioambientais mais recorrentes no estado, seis deles são ligados, de alguma forma, à exploração ilegal de madeira e à devastação de floresta nativa.
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Relatório
A Rede de Observatórios da Segurança também analisou que as novas dinâmicas de crimes socioambientais ocorrem especialmente em estados do Norte e do Nordeste. Nestas regiões as populações foram expulsas de áreas rurais e migraram para pequenas cidades próximas criando as “periferias rurais”.
Além disso, os estados que compõem a floresta amazônica estão sendo dominados por facções de drogas do Sudeste (CV e PCC), que potencializou crimes, como os territoriais.
Desta forma, há uma nova realidade, tanto nas áreas de fronteiras, como nas cidades, aldeias indígenas ou terras de populações tradicionais.
A pesquisa mostra também que a questão continua atravessada pelo racismo e o encarceramento da juventude negra. Isso porque as autoridades adotam um modelo de segurança pública baseado na guerra às drogas.
Sobre Rede de Observatórios
A Rede de Observatórios atua na produção cidadã de dados com rigor metodológico em oito estados em parceria com instituições locais.
É realizado o acompanhamento de indicadores de segurança junto a parceiros como a Iniciativa Negra Por Uma Nova Política de Drogas, da Bahia; o Laboratório de Estudos da Violência (LEV), do Ceará; a Rede de Estudos Periférico (REP), do Maranhão; o Grupo de Pesquisa Territórios Emergentes e Redes de Resistência na Amazônia (TERRA), do Pará; o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), de Pernambuco; o Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens (NUPEC), do Piauí; e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP), de São Paulo.
O estado do Pará passou a ser monitorado em janeiro de 2023 e por isso ainda não possui dados que possam ser apresentados neste relatório. Já Maranhão e Piauí completaram o seu primeiro ano na Rede e por isso seus dados estão presentes pela primeira vez.
(Texto oriundo Rede de Observatórios de Segurança, com edição da Agência Tambor).