Quais as reais consequências dos atentados terroristas planejados, financiados, organizados, estimulados e praticados pelo grupo de Jair Bolsonaro?
O mundo assistiu espantado ao festival de bestialidade, ocorrido em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. É visível a perplexidade e a repercussão negativa.
E para nós brasileiros? O que tem de novidade? De surpresa? Quais serão os desdobramentos? O que ficará pra História? Terá algum aprendizado? Mudança?
Vamos aos fatos. A eleição de 2022, no Brasil, foi marcada pelo medo de fazer campanha.
Algo que era normal – pedir votos para candidato de sua preferência – passou a ser motivo de grande preocupação.
O motivo é que desde 2018, com a ascensão do bolsonarismo, houve inúmeros casos de agressões promovidas por essa extrema direita, incluindo assassinatos. Tudo feito por intolerância política.
Agora, com a derrota eleitoral do Jair, o país assistiu a tentativas de sabotagens, planejamento para explosão em locais públicos (incluindo aeroporto), bloqueio de estradas, incêndio de caminhões e a ocupação da porta de quartéis.
Finalizado o segundo turno da eleição de 2022, o Brasil passou a testemunhar ações golpistas da extrema direita. Estamos vendo, sem filtro, o terrorismo bolsonarista, que teve “direito” a banheiro químico, transporte, café, almoço, jantar…
E o mundo todo pergunta: Quem financiou os sucessivos crimes? Quais as organizações envolvidas? Empresas? Além do próprio Bolsonaro, quem também tenta articular um golpe de estado? Quem quer rasgar a Constituição? A quem interessa o caos? E quem fecha os olhos, deixando a boiada passar?
Homenagem à covardia
A extrema direita bolsonarista tem conexão direta com o golpe militar que implantou uma ditadura no Brasil, em 1964.
A conexão é explícita. Ela passa inclusive pelo culto aos torturadores que atuaram a serviço daquele regime, como o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo dos Bolsonaro, homem que comandou tortura de crianças e o estupro de grávidas. Repetindo: crianças e grávidas.
Bolsonaro prestou homenagem para essa anomalia, em abril de 2016. O fato ocorreu na sessão da Câmara Federal, presidida por Eduardo Cunha, que desonestamente arrancou Dilma do poder. Citar o torturador foi mais uma atrocidade! Um absurdo, escandalosamente naturalizado!
Após o péssimo exemplo do pai, na campanha de 2018, um filho de Bolsonaro usou camisa com a foto desse mesmo Ustra, o ex-militar, autor de crimes pavorosos, condenado pelo Estado brasileiro. Ustra Vive! Dizia a imagem exibida.
A partir de 2019, a extrema direita brasileira passou a alimentar o sonho de outro golpe de Estado, outra ditadura, com nova participação das Forças Armadas e a inédita chancela do voto popular.
No embalo da Lava Jato, eles acreditavam que “bastaria um cabo e um soldado” para fechar instituições públicas… Não rolou o golpe. Eles perderam a eleição. Perderam no voto! E estão inconformados!
E a partir de um autoritarismo visceral, eles financiaram o terrorismo, a tentativa tresloucada de golpe, incluindo a ação do dia 8 de janeiro de 2023, com a invasão e depredação do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. “Ustra Vive!”
Multiplicação das armas
Nas cidades brasileiras, os eleitores de Bolsonaro usam camisas amarelas da CBF, colocam bandeiras do país em seus carros, nas fechadas de suas casas e de seus apartamentos.
Essa é a parte mais visível da extrema direita do nosso país. É gente que ama a bandeira e o hino, se ajoelha para pedir graças, tendo repulsa pelos pobres, a quem dão esmolas e negam dignidade.
Entre esses, tem uma minoria que anda fortemente armada, acompanhada de capangas, pistoleiros.
Na véspera do segundo turno da eleição de 2022, a deputada Carla Zambelli estava escoltada por vários jagunços, quando saiu correndo pelo meio da rua, com revólver em punho, para tentar humilhar um cidadão negro, que fazia oposição a Bolsonaro.
O ex-deputado Roberto Jefferson, mentor do “padre” Kelmon, que assim como Zambelli também estava até o pescoço na campanha de Bolsonaro, atirou bombas na Polícia Federal, depois de tentar desestabilizar o processo eleitoral, entre o primeiro e o segundo turno.
O número de armas registradas no Brasil triplicou, entre 2019 e 2022. Ao longo do governo da extrema direita, a quantidade passou de um milhão, segundo dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, divulgados pela revista Carta Capital.
Boa parte desse arsenal estaria com “caçadores, atiradores e colecionadores”. É uma falácia. Na realidade, elas são parte de um projeto de poder.
Num país que voltou ao mapa da fome, essas armas foram parar nas mãos de gente rica, que age na base do quero, posso e mando, fora da lei, numa espécie de “Estado paralelo”, onde eles acreditam ter direitos ilimitados, inclusive o de matar. E eles matam!
São grupos que vão desde os milicianos do Rio de Janeiro, até organizações que saqueiam e destroem a Amazônia.
Vítimas
No Brasil, muita gente é assassinada por questões sociais e políticas. Alguns casos ganham visibilidade internacional, como de Marielle Franco (Rio de Janeiro) ou o de Bruno Pereira e Dom Phillips (Amazonas). Outros não tem tanta repercussão.
No município maranhense de Arari, por exemplo, cinco trabalhadores rurais quilombolas foram assassinados, entre 2019 e 2022. No município de São João do Soter, também no Maranhão, o líder quilombola Edivaldo Pereira Rocha, filiado ao PT, foi executado em 2022. Nos dois municípios existem ricos grileiros de terras.
Hoje, a partir da barbárie exibida em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, está sendo informado que o terrorismo bolsonarista é também financiado por gente que atua no campo, escondida sob o rótulo de “empresários do agronegócio”.
São invasores de terras habitadas por povos e comunidades tradicionais, onde vivem trabalhadores rurais, agricultoras e agricultores familiares. Esses contraventores que hoje financiam o terrorismo ganham dinheiro devastando o meio ambiente, surrupiando madeira e minério, grilando territórios.
Ódios e mentiras
O pastor evangélico Milton Ribeiro – que certamente nada tem a ver com a mensagem de Jesus de Nazaré – foi ministro da Educação do governo Bolsonaro. Armado num aeroporto de Brasília, em 2022, ele quase provocou uma tragédia, por conta de um disparo acidental.
Milton Ribeiro é o mesmo que, também em 2022, foi denunciado, acusado de comandar esquema de corrupção, com pagamento de propina para outros “pastores”. Pela denúncia, até barras de ouro teriam sido utilizadas num balcão de negócios, dentro do Ministério da Educação, no governo Bolsonaro.
A extrema direita bolsonarista tem como alicerce a manipulação da fé, potencializando preconceitos e estimulando o ódio. Eles hegemonizaram o campo conservador brasileiro, agarrados a mentiras que falam em “mamadeira de piroca”, “Venezuela”, “kit gay” e “comunismo”.
A fábrica de mentiras montada pelo bolsonarismo passou a ser outra forma evidente de violência! Ela é brutal!
É uma máquina de propaganda, movida por muito dinheiro, impulsionada em redes sociais, com doses cavalares de má fé e desfaçatez, indo ao encontro de ingenuidade e ignorância. E isso passa, também, por dentro de igrejas.
Essa mesma máquina de mentiras, inclusive, matou muita gente na pandemia de Covid 19, ao difamar a ciência, os agentes públicos, o jornalismo e a Organização Mundial de Saúde.
Deus? Pátria? Família?
Os atos terroristas e a tentativa de golpe de Estado expuseram Jair Bolsonaro e a extrema direita da qual ele faz parte.
Eles são hediondos! E não existe espaço para golpistas armados, adoradores de Ustra, dentro de uma democracia, numa sociedade que pensa minimamente em civilidade. O lugar dessa gente é na cadeia.
A eleição da chapa Lula-Alckmin, ocorrida em 2022, é a possibilidade de um marco civilizatório no Brasil, país criado sob todo tipo de violência, com escravidão, senzala, pelourinho, roubo de terras indígenas, estupros, racismo, farisaísmo. Nossa violenta desigualdade vem daí.
Hoje o desafio está posto! E ele é anterior ao dia 8 de janeiro de 2023. O que houve ali em Brasília é mais do mesmo! É o bolsonarismo de Adriano Nobrega, Augusto Heleno e Damares Alves! É barbárie!
E a origem do problema é evidente. A ascensão da extrema direita, do bolsonarismo, é consequência da naturalização da violência no Brasil. Essa é a questão!
A sociedade e o Estado brasileiro não podem mais naturalizar a violência, oriunda de desigualdade, fome, terrorismo, machismo, racismo, golpe de Estado, homofobia, assassinatos ou do discurso de cínicos criminosos que falam de “Deus, pátria e família”.
Ótimo texto e é realmente importante perceber e reconhecer a escalada do Bolsonarismo no país, cabem tantos “se” ao longo desses anos, e “se” o Bolsonaro tivesse sido punido quando defendeu Ustra e a tortura na câmara , na frente de tantos outros representantes do povo, “se” Bolsonaro tivesse sofrido Impeachment, tendo em vista que motivos não faltaram e mais outros tanto e “se”, que infelizmente não tiveram espaço pra ocorrer, foi se normalizando tantos absurdos e a extrema-direita conquistando tantos “iguais” que quando a gente observa o que eles falam atualmente, eles narram uma realidade totalmente descolada do que acontece de fato. Ao meu ver atualmente um dos principais desafios é tentar acabar ou diminuir com esse estado de “alienação” dos seguidores, uma vez que eles são extremamente resistentes a informações que não sejam condizentes com o que eles propagam, por mais absurda que sejam as informações que eles disseminam, são essas informações que eles reconhecem como “verdade absoluta”. Díficil.
Caroline, democratizar a comunicação segue sendo um desafio no Brasil. Ter uma comunicação que informe e eduque, na direção da justiça social, da defesa dos Direitos Humanos, do respeito ao meio ambiente. Ter tirado a extrema direita do Palácio do Planalto foi um passo importante…