
As celebrações pelos 101 anos de nascimento de Mestre Felipe evidenciam a importância de seu legado na cultura popular maranhense e destacam a presença do tambor de crioula para além das fronteiras do Maranhão. O tambor de Mestre Felipe é uma manifestação tipicamente maranhense, que preserva as tradições da região da Baixada, mais especificamente do povoado Tabocas, situado no município de São Vicente de Férrer, a cerca de 157 km de São Luís.
Felipe Neres Figueiredo e sua esposa, Raimunda do Carmo Pereira, chegaram à capital maranhense em meados dos anos 1960. O casal fixou residência em São Luís e deu continuidade à tradição cultural que fazia parte de sua origem. Com o tempo, a brincadeira ganhou força e o tambor de crioula se consolidou como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, título concedido em 2007.
Para Sérgio Costa, artista da cultura popular, a importância de Mestre Felipe pode ser observada a partir de três aspectos principais. Em primeiro lugar, ele destaca a abertura do mestre às dinâmicas culturais e às transformações ao longo do tempo, com ênfase no incentivo à participação das mulheres no toque do tambor, ainda na década de 1970 — época em que havia a crença de que, se uma mulher tocasse o tambor, o instrumento poderia se quebrar.
Quanto ao segundo ponto, Sérgio ressalta a receptividade de Mestre Felipe ao conhecimento e à troca com outros artistas. Essa postura colaborativa o tornou um agente cultural decisivo na expansão do tambor de crioula, promovendo intercâmbios com músicos dentro e fora do Brasil — entre eles, o cantor e compositor César Nascimento.
Por fim, ele enfatiza as particularidades sonoras desenvolvidas pela turma de Mestre Felipe, como a ausência das matracas no toque, o que confere à manifestação uma sonoridade mais melódica e equilibrada.
Sérgio, tambozeiro da turma de Mestre Felipe e um dos responsáveis pela preservação do legado do mestre, participou na segunda-feira (16/06) do Dedo de Prosa, programa de entrevista da Agência Tambor.
Neste mês, como parte das homenagens à obra de Mestre Felipe, parte de seu acervo musical foi relançado nas principais plataformas digitais, com distribuição para mais de 150 países. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o grupo Tambor de Mestre Felipe — por meio do pungador Bruno Gueiros — e a gravadora Star Music.
Esse processo de resgate teve início em 2023, com o relançamento do EP “Assim que Era”, e seguiu em 2024 com o disco “Jundiá, Peixe do Fundo”. Agora, em 2025, o álbum “Tambor de Crioula” de Mestre Felipe também passa a integrar o catálogo digital, ampliando o alcance da obra do mestre para novas audiências em escala global.
Segundo Sérgio Costa, o trabalho não para por aí. Novas ações estão previstas para garantir a preservação e a continuidade da memória de Mestre Felipe para as futuras gerações. “O nosso próximo passo é relançar o segundo CD de Mestre Felipe, realizado por intermédio de Erivaldo Gomes, e, em seguida, gravar mais toadas Assim que Era, que correm o risco de cair no esquecimento.” Há também a intenção de publicar uma versão atualizada do livro Mestre Felipe por ele mesmo, de autoria do próprio Sérgio, em formato e-book.
Confira, na íntegra, a entrevista do Dedo de Prosa com Sérgio Costa.