Nos últimos quatro anos, por conta do antigo governo federal, o Brasil voltou ao mapa da fome. O Maranhão – estado historicamente marcado por pobreza e miséria – sofreu e ainda sofre com esses desarranjos provocados na economia.
E além das questões nacionais, existe no Maranhão uma estrutura de poder marcada pela capacidade de excluir e explorar a maioria da sociedade. É uma conhecida estrutura de padrão oligárquico.
Falamos de um poder econômico e político que liquida o meio ambiente e viola permanentemente os direitos humanos.
É a mesma estrutura que via de regra obstrui a investigação de assassinatos de trabalhadores rurais, indígenas e quilombolas. As vítimas são executadas a mando de ricos fazendeiros, de invasores de terras, que se escondem sob o rótulo do “agronegócio”.
É o mesmo poder que mata rios e nascentes, fazendo estragos socioambientais que vão da Amazônia até o Cerrado.
É neste ambiente de diferentes formas de violência e exclusão que ocorreu, na última sexta-feira (04/08), uma cena grotesca.
A chuva de dinheiro
No município maranhense de Cândido Mendes, um vereador disse que o prefeito tentou comprar o seu mandato.
O mesmo parlamentar levou uma mala de dinheiro para a Câmara Municipal e fez um discurso na tribuna, falando da “tentativa de corrompê-lo”.
Em seguida, o dito vereador foi para janela do prédio onde funciona o parlamento e jogou o dinheiro no meio da rua. Fala-se em 250 mil. Segundo o discurso do vereador, “o dinheiro pertence ao povo”.
A atitude estapafúrdia do parlamentar produziu uma cena bizarra, com pessoas em alvoroço, catando as notas de dinheiro no chão.
Pelo Brasil afora, a mídia de mercado e seus quejandos registraram o “espetáculo”.
Cândido Mendes fica na Amazônia maranhense, região de graves crimes sociais e ambientais, local de diferentes formas de violência.
Lá, em 2020, um prefeito foi preso com porte ilegal de armas e 450 mil reais em espécie. A primeira foto que ilustra este editorial se refere a este fato. A imagem foi publicada no site do Ministério Publico Estadual.
Ouro, dinheiro e tragédias
Cândido Mendes faz fronteira com o município de Godofredo Viana, onde tem uma empresa da América do Norte, que ganha uns “trocados” com a exploração de ouro.
Foto: MAB
Essa empresa mineradora rompeu uma barragem, em março de 2021. O acidente prejudicou diretamente a vida de aproximadamente 4 000 pessoas, inclusive em relação ao abastecimento de água.
Leia mais: Há um ano! Rompimento de barragem no Maranhão violenta comunidade!
E o problema, que passou pela existência de uma lama tóxica, segue até hoje em Godofredo Viana. Segue sem a devida solução.
Agora, na vizinha cidade de Cândido Mendes, a disputa pelo poder municipal levou a esse escárnio, com a tal “chuva de dinheiro”.
Diante de uma elite que pratica e naturaliza violências, diante de pactos que silenciam essas mesmas violências, é importante informar que existem na região outros assuntos prioritários, fundamentais para a vida.
São outros temas, assuntos graves, que precisam chamar mais a atenção da opinião pública e das diferentes instituições.
O difícil de tudo isso seria acreditar que o dinheiro era do vereador, sabe-se que o dinheiro era de alguém agora de quem?