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Quantas lideranças precisam morrer na “democracia” brasileira?

Dona Maria, viúva de Edvaldo, segurando foto dele | Foto: João Paulo Guimarães/Agência Pública

Danielle Louise

Mais uma liderança quilombola foi morta no Brasil. Dessa vez na Bahia. A Mãe Bernadete foi assassinada a tiros no quilombo Pitanga dos Palmares. Além de líder no quilombo, ela também era Iyalorixá do Candomblé.

O caso, que ganhou destaque nacional e a investigação foi federalizada, também traz à tona os assassinatos de quilombolas em todo o Brasil, especialmente no Maranhão.

É preciso lembrar que a última liderança morta por conflitos no campo no estado foi Edvaldo Pereira Rocha, do quilombo de Jacarezinho, localizado no município de São João do Sóter.

Edvaldo foi o sétimo quilombola assassinado no Maranhão em razão de conflitos fundiários, desde o ano de 2020. 

Nenhum dos inquéritos dos crimes anteriores foram concluídos e nenhum do(s) autor(es) dos crimes foram identificados.

Esse tipo de conflito ocorre há décadas no Brasil, especialmente no Maranhão, causando uma série de violações aos direitos humanos. Assassinatos, ameaças de morte, invasões, grilagem, desmatamento, que estão associados ao avanço do agronegócio.

Em 2022, o Maranhão ficou na liderança, junto ao estado de Rondônia, no número de assassinatos no Brasil, causados por conflitos no campo. Estes dados são da Comissão Pastoral da Terra (CPT). 

De acordo com a CPT, foram registrados 178 casos de conflitos em território maranhense somente em 2022.

Leia também: A trágica morte de Mãe Bernadete tem relação com dramas do povo maranhense

Estes números explicitam a crescente violência no estado, que envolve diretamente comunidades quilombolas.

Quando refletimos sobre o crime barbárie da Mãe Bernadete percebemos como o Brasil está longe de implementar a reforma agrária, que daria direito de território para essas populações.

Ao mesmo tempo, podemos nos questionar por que estes crimes que ocorreram no Maranhão não foram também federalizados, tal qual o assassinato da Iyalorixá da Bahia.

Vivemos em um estado onde crimes contra quilombolas, pessoas indígenas, ribeirinhas, de comunidades tradicionais são invisíveis. E o Maranhão, segundo novo levantamento do IBGE, tem a segunda maior população quilombola do Brasil.

O ministro de Estado da Justiça, Flávio Dino, foi por oito anos governador do Maranhão. Nesse período, os conflitos por terra obtiveram um considerável aumento. Mas no cargo de um importante Ministério do governo federal, ele poderia olhar para os casos de seu próprio estado.

Falar do assassinato de Mãe Bernadete deveria chamar atenção dos órgãos públicos e da Justiça brasileira sobre os diversos crimes contra quilombolas em outros estados, especialmente no contexto maranhense.

Foto: Mãe Bernadete (Bahia) e Edivaldo Pereira Rocha (Maranhão) vítimas dos mesmos criminosos.

A Agência Tambor, inclusive, recentemente recebeu denúncias de moradores da comunidade quilombola centenária de Bom Descanso, vizinha do quilombo Jacarezinho. Terra onde Edvaldo Pereira era liderança.

A denúncia é de invasão do território, com tratores, correntão e homens armados, com envolvimento do agronegócio na região.

É preciso uma ação urgente do Estado que assiste quilombolas serem assassinados no Brasil.

A sociedade não pode fechar os olhos sobre como o Estado vem sendo omisso por anos a esses tipos de crimes. E eles aumentaram significativamente no governo de extrema–direita de Jair Bolsonaro. O extremista tinha seu projeto de morte para essas populações.

No entanto, é um tipo de conflito secular, estrutural, de um Brasil que ainda herda problemas da época colonial. Envolvendo a invasão de portugueses, que dizimaram os povos originários, assim como escravizaram e assassinaram pessoas negras traficadas do continente africano. 

E aqui, cabe o questionamento de Mãe Bernadete: “quantas lideranças precisam morrer para que entendam que a morosidade na garantia dos nossos direitos nos mata?”

Sobre o autor

Danielle Louise

Jornalista pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA; comunicadora popular;  da Agência Tambor; cofundadora e diretora de comunicação do projeto MAI - Mulheres Aprendendo Inglês.

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ALVARO MELO LINDOSO SOBRINHO LINDOSO

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ALVARO MELO LINDOSO SOBRINHO LINDOSO

Gostei do que vi, uma reportagem da verdade omitida da população. Precisamos viver a verdade do nosso país e não vivenciar notícias direcionadas por uma mídia comprometida com seus interesses. Mas a verdade de uma forma ou de outra aparece.


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