Letícia Cardoso
O jornalismo ocupa um lugar de destaque, ainda que controverso, no mundo e no modo como a sociedade se percebe. No atual cenário sociopolítico brasileiro, a prática da profissão vem sendo colocada em constante dúvida e a contestação de sua legitimidade abrem caminhos para este artigo.
Mesmo questionado e pressionado, o jornalismo ainda possui a prerrogativa de dizer o mundo e seus acontecimentos, em geral, de forma legitimada pelos cidadãos.
Sendo espaço de narratividade da vida, de produção/ compreensão de sentidos e de representações, é preciso reconhecer que muitas experiências jornalísticas, especialmente aquelas desenvolvidas por conglomerados midiáticos subservientes ao sistema econômico capitalista global, em geral não proporcionam a todos a mesma oportunidade de espaço e de representação.
No entanto, feitas as devidas críticas, a instituição jornalística, dentre outras atribuições, tem o dever de questionar e denunciar fatos e atitudes contrários ao que denominamos democracia. Desde o seu surgimento no século XVII, a imprensa vem tentando construir a sua história ao lado da busca pela liberdade e pela igualdade social. E bem ou mal, resiste como prática profissional e de interesse público.
Muito além da visão romântica de “Quarto Poder”, o jornalismo assume hoje um espaço estratégico, num contexto em que a sua credibilidade está em tensão e disputa com narrativas duvidosas como as fakenews. Em vez de simplesmente aceitarmos uma crise no jornalismo, discurso muito conveniente a políticos e empresários mal intencionados; defendemos o fortalecimento dessa instituição social tão necessária à conscientização, à politização e à construção da opinião pública, por meio da produção de informação de qualidade – baseada em teorias e técnicas de apuração, verificação e referência com a realidade. A complexidade da profissão, que é muito mais do que transmitir fatos, requer uma vigilância ética. E, embora o mercado da comunicação em alguns momentos esquive-se dessa postura, é uma preocupação permanente nas escolas de jornalismo do país, gerando um controle social do campo jornalístico a fim de denunciar excessos e evitar equívocos. Aliás, em tempos de convergência cultural, esse controle se expandiu e ficou mais próximo do público. Cada vez mais a população pode criticar, contestar, elogiar, aprovar e exigir posicionamentos sobre as abordagens jornalísticas, junto às empresas e aos jornalistas, com apenas um clique, um post ou tuíte.
Num contexto societário em que somos cotidianamente bombardeados por conteúdos de natureza desconhecida, em diferentes redes sociais digitais, e mesmo nos meios de comunicação convencionais, como televisão e rádio, quando somos interpelados por uma enxurrada gigantesca de publicidade e entretenimento, em detrimento de divulgação informativa, é compreensível que as pessoas se sintam perdidas e encontrem dificuldade para confiar neste ou naquele órgão de informação.
É preciso registrar que há diferenças entre consumir notícias (conteúdos jornalísticos informativos apurados por órgãos e profissionais de imprensa) e conteúdos com aparência de informação (provenientes de fontes não-jornalísticas e muitas vezes desconhecidas). Apesar de as redes sociais digitais (Facebook, Instagram, Youtube…) e os apps de trocas de mensagens instantâneas (a exemplo do Whatsapp) disporem de rapidez e maior capacidade de personalização na difusão de informações, nesses meios também é mais alto o risco conter informações indevidamente checadas e intencionalmente falsas, ocasionando ondas de desinformação. As principais características da desinformação, segundo Wardle e Derakhshan (2017), estão relacionadas ao compartilhamento de conteúdo intencional, que pode gerar efeitos negativos para as instituições jornalísticas e políticas, e que circulam principalmente nas mídias digitais, tendo em vista sua velocidade e eficácia.
Em meio a tanto apelo e insegurança, seja pela viralização de conteúdos duvidosos (no caso das fakenews) ou pela mera busca da audiência visando ao lucro (no caso dos grandes grupos de mídia), o projeto popular, independente e estritamente comprometido com o interesse público da Agência Tambor vem atender uma demanda social necessária no Maranhão – estado brasileiro com a maior concentração midiática do país.
Com um nome que remonta à forma tradicional de comunicação quilombola – o toque dos tambores em várias situações reúne as comunidades e dá as notícias – a Agência Tambor foi fundada em 2018 e tem como princípios a comunicação livre, popular, comunitária e alternativa. Segundo a descrição do site da agência que tem como foco a produção jornalística, a Tambor “é um instrumento comprometido com a luta das trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, dos povos e comunidades tradicionais, por um movimento sindical forte e independente, pela defesa permanente dos direitos humanos, pelo combate ao machismo, racismo, homofobia, com o compromisso com os povos e comunidades tradicionais, pela preservação do meio ambiente e pelo respeito e estimulo à arte e a cultura”. Ação de mediação cultural e intervenção social que, por meio de suas pautas, agendas e coberturas, contribui para o sonhado processo de democratização da comunicação do Brasil, ao garantir a voz das minorias e dos que estão à margem dos processos hegemônicos de poder. É, de fato, o povo na mídia.
Batuquemos juntos esses tambores que anunciam boas novas no jornalismo maranhense!