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Zeca Baleiro escreve sobre Pelé

Pelé sempre me emocionou. Não só pelos bailes que deu dentro de campo, mas também porque sempre vi nele uma pureza incomum para pessoas de seu tamanho e celebridade. Pelé, em seu tempo, redimiu o Brasil de várias de suas mazelas enquanto brilhava nos estádios do mundo todo com seu balé brejeiro e afirmativo.

Mais recentemente, o Rei do Futebol vinha sendo alvo de críticas e acusações implacáveis por parte dos mais jovens – os principais usuários de redes sociais – por causa de suas prováveis omissões, tanto familiares quanto como defensor da causa racial.

Há hoje uma obsessão tão grande pela ideia de “ativismo” (necessário, sem dúvida) que estamos esquecendo o mais importante: o maior ativismo é viver.
Ser Pelé foi a grande causa de Pelé, e há nisso uma tamanha energia transformadora da sociedade, que não deve ser esquecida nem relativizada pelos novos tempos (nem mesmo pelas urgências sociais de hoje).

Pelé foi inspiração pra muita gente – pretos e brancos, ricos e pobres, urbanos e interioranos, brasileiros, africanos, americanos, suecos. Deixa um rastro de beleza que nada pode apagar.

Quanto aos seus “pecados” familiares, é bom lembrar que na mitologia grega havia deuses maus, deuses que matavam seus filhos, abandonavam esposas, destruíam cidades, viviam no submundo. E permaneciam deuses.

Não, não estou “passando pano” para os erros de Pelé.

Pelé foi falho, errado, incorreto, humano. Mas é um deus. Um deus demasiadamente humano, mas um deus.

*Texto publicado originalmente no Facebook de Zeca Baleiro

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