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Qual origem do problema? Maranhão liderou crescimento de mortes violentas em 2024

O Maranhão registrou, em 2024, o maior crescimento percentual de Mortes Violentas Intencionais (MVI) entre todos os estados brasileiros, com um aumento de 12,1%. Os dados foram divulgados na última semana pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que também destacou o crescimento da letalidade policial no estado. A escalada da violência tem como ponto central as comunidades periféricas.

O indicador Mortes Violentas Intencionais (MVI) refere-se ao número total de homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e feminicídios. Esses crimes são considerados intencionais e os índices são utilizados para monitorar e analisar a violência letal na região.

Com os resultados expostos, o Maranhão subiu do 12º para o 6º lugar no ranking dos estados mais violentos do país.

Em entrevista ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor, o historiador e especialista em segurança pública Paulo Henrique Matos de Jesus apontou que a situação no estado é crítica e reflete a ausência de políticas públicas efetivas. “O Maranhão tem, em números absolutos, mais latrocínios do que estados com o dobro da população, como a Bahia. Isso é extremamente preocupante”, alertou o analista técnico do Observatório de Criminalidade da Associação dos Delegados do Maranhão (ADEPOL-MA).

[Veja a entrevista completa com Paulo Henrique Matos ao final desta matéria.]

Segundo Paulo Henrique, apesar de uma queda recente nas taxas de latrocínio no primeiro semestre de 2025, o estado ainda lidera o ranking nordestino. Ele critica o uso propagandístico dos números por parte do governo: “A redução dessas taxas não é resultado de ações do Estado, mas da própria dinâmica do crime, que oscila ao longo do tempo.”

A letalidade policial também cresceu de forma significativa no Maranhão. Mais de 90% das mortes provocadas por agentes do Estado têm como autores policiais militares, em grande parte fora do horário de serviço. “A formação desses profissionais ainda está baseada em uma doutrina de combate ao inimigo interno, herança da ditadura. E esse inimigo tem cor, território e classe social definidos: é o jovem negro das periferias”, afirmou o pesquisador.

Pior investimento

Apesar dos dados, o Maranhão, ainda de acordo com o Anuário ocupa a ultima posição em “Gasto per capita com segurança pública Unidades da Federação – 2024 (em R$).”

Violência contra a mulher

Outro dado preocupante diz respeito à violência contra a mulher. O Maranhão teve um aumento de 42,8% nas tentativas de homicídio de mulheres e aparece entre os estados com maior taxa de tentativa de estupro. Em 2024, foram 504 registros desse crime no estado, quase 10% do total nacional. “O feminicídio é a ponta do iceberg de um ciclo de violência. É urgente um plano estadual de enfrentamento, com delegacias especializadas funcionando 24h, monitoramento de agressores e rede de proteção efetiva”, reforçou Paulo Henrique.

O especialista ainda denuncia a precariedade das estruturas policiais no interior do estado. Delegacias com poucos agentes, viaturas sucateadas e falta de investimento comprometem a capacidade de investigação. “Os trabalhadores da segurança também são vítimas dessa política fracassada. Muitos operam no limite da saúde física e mental. O índice de suicídio entre policiais é altíssimo”, revelou.

Para ele, a escalada da violência no Maranhão está ligada a dois fatores principais: a expansão das facções do Sudeste para o Nordeste e a ausência de planejamento estratégico. “A segurança pública no estado segue um modelo reativo e ostensivo, baseado em operações midiáticas. Falta inteligência, dados em tempo real e principalmente diálogo com a sociedade”, disse.

Capital campeã em furtos

O Anuário traz também a lista dos 20 municípios com população superior a 100 mil habitantes e maiores taxas de roubos e furtos de celulares. Desta vez, São Luis se destaca e lidera o ranking entre as capitais. A capital maranhense tem a maior taxa nacional do período, contabilizando 1.599,7 aparelhos roubados e furtados para cada 100 mil habitantes.

Diante desse cenário, Paulo Henrique defende uma mudança de paradigma. “Precisamos tirar o debate sobre segurança das mãos apenas dos operadores. Sociólogos, historiadores, antropólogos, a sociedade civil — todos devem participar da construção de políticas públicas eficazes”, concluiu.

Assista a entrevista completa com Paulo Henrique Matos de Jesus no canal da Agência Tambor.

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