A farinha d’água é essencial para muitas famílias no estado do Maranhão. Este alimento representa resistência, renda, cultura e ancestralidade para diversas comunidades tradicionais da região.
Em entrevista ao Jornal Tambor desta terça-feira (20/08), as quilombolas Ana Maria, Karina Araújo, Maria Isabel Bastos e Raimunda Maria Silva falaram sobre o evento da Farinhada nas comunidades rurais do Maranhão.
Leia também: São Benedito do Rio Preto! Liderança quilombola quer investimento da prefeitura na agricultura familiar
Ana Maria e Karina são do Quilombo Cana Brava, no município maranhense de Santa Quitéria. Raimunda e Maria Isabel são do Quilombo Bom Princípio, no município de Brejo.
(Veja, ao final deste texto, o Jornal Tambor com a íntegra da entrevista de Ana, Karina, Maria Isabel e Raimunda.)
Para Ana Maria, o processo de produção da farinha é transmitido de geração para geração e fortalece a prática entre os jovens. Ela destacou que a Farinhada precisa ser mais valorizada e reconhecida pelo estado.
“As crianças e adolescentes vão com orgulho para as casas de forno e fazem a farinha. Os ensinamentos passados nas casas de forno nos ajudam a sustentar nossas bases, ancestralidades e identidade”, ressaltou Ana.
Para Isabel e Raimunda, a Farinhada é crucial para fortalecer a agricultura familiar, a segurança alimentar das famílias e as práticas centenárias dos territórios.
No entanto, a Farinhada e outras práticas das comunidades rurais estão ameaçadas pelo avanço do agronegócio no Maranhão. Esta atividade destrói plantações, polui rios e devastam os territórios onde essas populações vivem.
O agronegócio prejudica a produção da farinha d’água no Maranhão
Segundo dados do MapBiomas Alerta, a área desmatada do Maranhão dentro do bioma amazônico aumentou em 85% entre 2019 (9.905,86 hectares) e 2022 (18.342,57 hectares). Esse aumento está relacionado ao avanço das atividades do agronegócio na região.
Karina destacou que a ausência do estado em fiscalizar e proteger os territórios das comunidades tradicionais favorece o aumento da violência ambiental e coloca em risco a vida das pessoas.
“A nossa farinha d’água merece ser protegida, assim como nossas comunidades. O agronegócio prejudica o processo de produção da farinha. A Farinhada é nossa cultura”, completou a quilombola.
A Farinhada
Fotos: comunidades rurais
Entre os meses de julho e agosto, ocorre o período da Farinhada nas comunidades rurais do Maranhão. Na região do Baixo Parnaíba, o processo está em pleno vapor.
A produção da farinha de mandioca, nossa tradicional farinha d’água, é um processo que envolve o trabalho em conjunto das famílias, começando com a colheita, raspagem, lavagem, prensagem, peneiração da massa, torração da farinha e, finalmente, o armazenamento.
Além do aspecto econômico, os quilombolas afirmam que a Farinhada é um momento de compartilhar memórias dos ancestrais, conhecimentos, ensinamentos, cultura, valores e costumes.
(Confira abaixo a edição do Jornal Tambor, com a entrevista completa de Ana, Karina, Maria Isabel e Raimunda.)