
Na última edição do Boletim da Agência Tambor, o destaque foi os crimes de transfeminicídio e racismo contra Rubi, mulher trans e indígena assassinada a facadas no dia 29 de setembro. Seu corpo foi encontrado às margens da MA-006, no município de Arame, a 476 km de São Luís.

Rubi é mais um alerta sobre a triste realidade maranhense e o crítico quadro brasileiro que a acompanha — o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo, de acordo com o mais recente Dossiê dos Assassinatos e da Violência contra Travestis e Transexuais Brasileiras, produzido pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Em 2024, foram registradas 122 mortes. Apesar de menor que o número do ano anterior, o dado revela a persistência da violência estrutural contra essa população.
A maioria das vítimas é negra, jovem, periférica e nordestina — um recorte que escancara as sobreposições de opressões de gênero, raça e classe. No Maranhão, o cenário segue preocupante: cinco assassinatos de pessoas trans e travestis foram registrados apenas em 2024, colocando o estado entre os mais letais do país para essa população.
Além de Rubi, Amanda, uma travesti de 33 anos, foi encontrada em uma área de mangue, no Aterro do Bacanga, em São Luís. A notícia também ganhou destaque na Agência Tambor. O crime ocorreu em setembro, no dia 8.
Ainda em 2025, uma travesti indígena de 23 anos, Shakira, foi encontrada morta no município de Grajaú. O corpo foi localizado boiando em um rio da região. Ela era da Aldeia Cocal. De acordo com a versão oficial, Shakira “teria morrido por afogamento”.
Os casos recentes revelam o quanto as políticas públicas de proteção ainda falham em garantir o direito à vida e expõem as lacunas no sistema de segurança e na responsabilização dos agressores.
A ausência de dados oficiais e de políticas específicas agrava o problema. Muitos casos sequer são identificados como crimes de ódio motivados por identidade de gênero ou mesmo racismo, o que impede a formulação de medidas eficazes. A invisibilidade institucional, somada ao preconceito cotidiano, contribui para o silenciamento e a marginalização dessa população.
Na ocasião do assassinato de Rubi, a Agência Tambor entrou em contato com o Governo do Estado buscando esclarecimentos sobre os próximos passos em relação ao crime hediondo. Até o momento, não houve qualquer resposta ou envio de informações sobre o que estaria sendo feito pelas Secretarias da Mulher e da Igualdade Racial.