Da Agência Tambor
Por Paulo Vinicius Coelho
11/07/2021
Na sexta-feira (9), durante a transmissão do Jornal Tambor, o Terreiro Dom Miguel, da Casa de Pai Lindomar, localizado no Anjo da Guarda, foi apedrejado. O ataque, relatado ao vivo, é mais um episódio de violência contra as religiões de matriz africana em São Luís. Na quinta-feira um indivíduo invadiu o Terreiro Dom Miguel e ateou fogo no local.
O avanço da intolerância religiosa foi o tema do Jornal Tambor que contou com a participação de Pai Glinger, do Terreiro de Mina Nossa Senhora de Santana, do bairro Apeadouro; Luis Carlos, do Terreiro de Dom Miguel da Casa de Pai Lindomar e a Yalorixá Jô Brandão.
VEJA ABAIXO A ENTREVISTA
Pai Glinger afirmou que vem sofrendo ameaças de prisão da polícia e intimidações de vizinhos por conta das manifestações espirituais realizadas no Terreiro Nossa Senhora de Santana.
‘’Hoje eu vivo perturbado, ameaçado, a polícia diz que se eu tocar o meu tambor eu vou ser preso’’ comentou.
Ele cobrou respostas dos órgãos responsáveis, declarou que está sendo impedido de colocar em prática a sua religião e questionou: ‘’as nossas autoridades vão deixar isso ocorrer, como acontecia com os nossos antepassados?’’
A situação também é crítica no Terreiro Dom Miguel. Luís relatou que há dois meses a casa de Pai Lindomar vem sendo atacada. O telhado da propriedade foi totalmente destruído. Na quinta-feira (8), a casa foi invadida e o responsável, ainda não identificado, ateou fogo em um colchão e quebrou uma imagem de santo e outros objetos.
‘’Não há porque sermos agredidos dessa forma. Nós não fazemos mal a ninguém, não ofendemos ninguém. Nós vamos tomar todas as medidas cabíveis porque merecemos respeito’’ afirmou Luis.
Outro caso grave foi observado na Casa Mamãe Oxum e Pai Oxalá, de Pai João Vila Nova. Enquanto o terreiro realizava uma atividade, evangélicos chegaram com um carro de som e organizaram um culto na porta da Casa de Pai João.
Incomodado, Pai João Vila Nova saiu do terreiro e esbravejou contra os evangélicos. O ato foi filmado e repercutido pela deputada estadual Mical Damasceno (PTB). A parlamentar tem utilizado o vídeo para embasar ataques contra religiões de matriz africana.
Yalorixá Jô Brandão apontou que os povos de terreiros ‘’tem sofrido ataques ferrenhos’’. Ela ressaltou que a intolerância contra religiões de matriz africana tem motivações racistas e, comentando o caso de Pai João, afirmou: ‘’no Brasil o racismo é um crime perfeito, porque a estrutura brasileira faz a vitima se sentir a vilã’’
Pai Luis reforçou que o racismo começa ‘’a partir do momento em que saímos de casa’’. Ele questionou ‘’por que os evangélicos podem vestir suas roupas de culto e nós de matriz africana não podemos sair vestidos de branco?’’
No dia 14, representantes de terreiros vão se reunir com o governo estadual para discutir como conter os ataques. Yalorixá Jô Brandão também citou a construção de um protocolo de atendimento do serviço público para coibir a intolerância religiosa. Todos os entrevistados relataram ter sofrido preconceito em delegacias e outros órgãos públicos.
Yalorixá Jô Brandão reiterou que a eleição de Jair Bolsonaro e o avanço da extrema-direita estão diretamente ligados ao aumento do preconceito.
‘’A gestão de Bolsonaro favorece a intolerância e autoriza, a partir do discurso de que tudo o que não é cristão é demoníaco, a criminalização de outras religiões’’.
Os entrevistados reforçaram que não vão se intimidar com os ataques, mas cobraram ações das autoridades para garantir o direito a liberdade religiosa e a integridade física dos povos de terreiros.
Veja abaixo a edição completa do Jornal Tambor (tratando dos casos de racismo religioso) em nosso canal do YouTube.
https://youtube.com/channel/UCSU9LRdyoH4D3uH2cL8dBuQ
Ouça abaixo a entrevista com os líderes religiosos, no Jornal Tambor, pela plataforma Spotify: