
O Ritual de Bilibeu do povo Akroá Gamella, em Viana (MA), marca a celebração do encantado (Bilibeu), símbolo de milagres de cura e da fertilidade das mulheres, além de simbolizar a resistência e a contínua renovação do povo Akroá Gamella frente ao racismo e às violências históricas.
Realizado de 26 de abril a 1º de maio, o Ritual aconteceu na Terra Indígena Taquaritiua, com a participação também de lideranças dos povos Gavião e Tremembé e contemplou diversas atividades culturais, envolvendo e integrando crianças, jovens e adultos.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI/MA) participou dos rituais com os missionários Fábio Reis e Rosimeire Diniz, na cerimônia para vivência e acompanhamento de lideranças Krikati e Krenyê. A atividade faz parte do Intercâmbio Linguístico e Cultural, com uma série de oficinas promovida pelo Cimi, no Maranhão, desde o ano de 2016.
Antes, celebrado durante a semana do Carnaval, o Bilibeu passou a acontecer a partir do dia 30 de abril como uma forma de resistência, após o episódio violento e sangrento ocorrido em abril de 2017.
Nesse triste episódio, dezenas de Akroá Gamella foram brutalmente atacados por defenderem o seu território. Foram mais de 20 feridos, tendo dois com as mãos decepadas. Desde então, o ritual se tornou também um ato de memória e afirmação. Memória dos que sofreram, e ainda sofrem com as sequelas e feridas desse fatídico dia, e de afirmação seguindo sempre vivos e em luta por seu território e defesa de seus direitos.
O Ritual de Bilibeu representa o momento de encontro, força coletiva, demarcação territorial e continuidade da história e da luta do povo Akroá Gamella.
Para Kum’tum Akroá Gamella, Bilibeu é o ritual de demarcação de seu território. “É a celebração da abundância da vida no território e a luta em defesa desse espaço pela reprodução da vida contra os projetos de morte e de ataque aos nossos direitos. Nós reafirmamos o nosso compromisso de luta nesta terra onde vivemos”, enfatizou o líder indígena em uma rede social.
Histórico
O ritual é uma homenagem a Bilibeu, que segundo a história, foi encontrado durante a queima de uma lavoura no Território dos Akroá Gamella.
No dia do Bilibeu, ápice do ritual, o povo Akroá Gamella percorre todas as aldeias do Território Taquaritiua, em uma corrida que dura aproximadamente 12 horas.
A atividade é denominada de “Corrida dos Cachorros de Bilibeu”, pois os corredores pintam os seus corpos e marcham pelas aldeias em busca de caças, como galinhas, patos, porcos e outros tipos de animais, que são oferecidos à entidade.
Uma das principais graças concedidas por Bilibeu é a fecundação de mulheres. Por debaixo das roupas, Bilibeu tem um falo. Quando mulheres engravidam, Bilibeu é o pai. E nos rituais subsequentes aos nascimentos, mães e filhos agradecem.
A mãe amamenta Bilibeu com o leite de seus seios, tal como prometido, e os filhos, quando crescem suficientemente, tornam-se cachorros, formando parte da matilha.
Com informações CIMI/MA