
Marcus Brandão, irmão do governador do Maranhão, Carlos Brandão, teria acessado, em dezembro de 2024, um processo administrativo da Secretaria de Infraestrutura relacionado à empresa Vigas Engenharia, utilizando o e-mail [email protected].
Daniel Brandão, atual presidente do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão, foi advogado da Vigas Engenharia. Ele é sobrinho do governador, filho de Marcus Brandão.

O representante da Vigas Engenharia, chamado Alessandro Martins Santana, faz foto com o boné do Grupo Brandão.
A Vigas Engenharia está sediada em Colinas, um dos 217 municípios maranhenses, com cerca de 42 mil habitantes. Trata-se da cidade natal da família Brandão, onde eles ocupam grandes extensões de terras, têm empresas e atuam politicamente.
Licitação esvaziada
Nos anos de 2024 e 2025, o governo de Carlos Brandão já pagou mais de R$ 129 milhões à Vigas Engenharia.
Foram pagos R$ 60.326.661,31 no ano de 2024 e, neste ano de 2025, já foram pagos R$ 69.172.222,53. O total chega a R$ 129.498.883,84 — quase 130 milhões de reais em um ano e oito meses.
Durante a gestão de Brandão, a empresa conseguiu contrato com o governo do Maranhão, participando sozinha de processo licitatório, havendo certames em que todos os concorrentes teriam sido previamente eliminados.
Diante dos fatos e de diferentes denúncias, a Procuradoria-Geral da República (PGR) será acionada para saber qual é a verdadeira relação do governador Carlos Brandão com a Vigas Engenharia. Cabe à PGR, instância maior do Ministério Público Federal, a fiscalização da ordem jurídica nesse tipo de caso.
Marcus Brandão e a Polícia
Em resposta ao site Metrópoles, o Governo do Maranhão afirmou há três meses que “está em andamento apuração policial sobre fortes indícios de invasão do sistema da Secretaria de Infraestrutura do Estado, com suposta extração ilegal de documentos, seguida de adulteração”.
A afirmação do governo refere-se ao documento em que o nome de Marcus Brandão aparece relacionado ao acesso de um processo administrativo na Secretaria de Infraestrutura, ligado à empresa Vigas Engenharia, no final de 2024.

Diante disso, surgem perguntas cruciais:
• Qual foi o resultado da apuração policial?
• Houve invasão ao sistema da Secretaria de Infraestrutura do Estado?
• Houve extração ilegal de documentos?
• Ocorreram adulterações?
• Se houve invasão, quem foi o responsável?
• Quem adulterou os documentos?
• A quem interessava essa suposta ação criminosa?
TCU e contraste na comunicação
O antigo cartel midiático do Maranhão, de perfil oligárquico, tenta abafar o assunto. Entretanto, a escassez de informações no Maranhão sobre a relação entre a Vigas Engenharia e o grupo político de Brandão contrasta com reportagens publicadas neste ano pela mídia de mercado em outros lugares.
No último dia 7 de maio, o site UOL publicou uma matéria com a manchete: “Empresa aliada do governador do Maranhão turbina contratos com o Estado”.
Outras reportagens, no jornal O Estado de S. Paulo e no site Metrópoles, também abordaram, em tom de denúncia, a relação entre a empresa, o grupo de Carlos Brandão e o governo maranhense.
Diante das denúncias, o governo do Maranhão vem afirmando que não há qualquer vínculo societário, patrimonial ou contratual entre a empresa Vigas Engenharia e o governador Carlos Brandão ou seus familiares. Segundo o governo, a contratação da empresa seguiu processo licitatório regular, com base na legislação vigente.
Mas, para além do contraste entre conservadores da mídia e dos diferentes discursos, o interesse público exige respostas convincentes, verdadeiras e fundamentadas.
Não por acaso, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou uma representação contra o Estado do Maranhão, solicitando a abertura de uma investigação.
Ricardo Arruda fala em “evidências”
O assunto relacionado à empresa do município de Colinas foi tratado na Assembleia Legislativa do Maranhão, nos últimos dias.
O deputado estadual Rodrigo Lago (PCdoB) informou que levará o assunto para a PGR e que, no dia 1.º de setembro, fez uma representação ao TCU, junto com os deputados Carlos Lula (PSB) e Othelino Neto (Solidariedade).
Sobre essa representação no TCU, o parlamentar do PCdoB disse que foram detalhados dez pontos que, segundo os denunciantes, expõem o vínculo explícito entre a empresa e o grupo do governador.
Em fala feita da tribuna, Rodrigo Lago enumerou cada um dos pontos, afirmando que a vinculação se daria através de holdings empresariais, de vários detalhes como serviços prestados, endereços, telefones, contador, e-mails, além de evidentes relações sociais, políticas e profissionais.
O deputado também lembrou que o representante da Vigas Engenharia, Alessandro Martins Santana, o mesmo que apareceu com o boné do Grupo Brandão, já se colocou publicamente como um dos responsáveis por um conhecido evento empresarial da família do governador, uma vaquejada.

Entre os parlamentares ligados ao governo do Estado, o deputado estadual Ricardo Arruda fez um longo discurso para defender Carlos Brandão e sua família. Ele é filiado ao MDB, partido que atualmente é presidido no Maranhão por Marcus Brandão.
No entanto, em sua defesa, o parlamentar governista cometeu um ato falho. Ao contestar a fala de Rodrigo Lago, Ricardo Arruda afirmou: “Mas eu vejo que essas evidências que Vossa Excelência trouxe aqui, elas não criam, digamos assim, essa materialidade necessária para estabelecer esse vínculo”. Evidências, deputado?

O outro lado
A Agência Tambor entrou em contato com a Secretaria de Comunicação do Governo do Maranhão, em busca de respostas para cada um dos pontos tratados nesta matéria.
Veja a nota abaixo:
O Governo do Maranhão esclarece que não há qualquer vínculo societário, patrimonial ou contratual entre a empresa Vigas Engenharia e o governador Carlos Brandão ou seus familiares. A contratação da empresa seguiu processo licitatório regular, com base na legislação vigente.
A Vigas Engenharia já participava de licitações e contratações em gestões anteriores há mais de dez anos, e não houve favorecimento ou aumento de contratos vinculado à atual administração. Informações sobre supostos vínculos familiares são infundadas e não encontram respaldo em registros oficiais.
Está em andamento apuração policial sobre fortes indícios de invasão do sistema da Secretaria de Infraestrutura do Estado, com suposta extração ilegal de documentos, seguida de adulteração para, posteriormente, serem oferecidos à imprensa.
Por fim, sugerimos contato com a empresa em questão e o senhor Daniel Brandão para retorno sobre os demais questionamentos.
Sobre a Vigas Engenharia
A Agência Tambor também está procurando o senhor Alessandro Martins Santana, para que ele possa se manifestar. Até o momento, não conseguimos. O espaço também está aberto para que ele possa dar sua versão sobre os fatos.