Via: Giovana Kury/Agência Tambor
“Acessibilidade é um direito, não um favor” – este é o lema da educadora e artista cega Zuneide Cordeiro, a entrevistada nesta quinta-feira (26) pela Rádio Tambor. Durante a entrevista, ela denunciou suas dificuldades diárias, os preconceitos velados e o surgimento de seu projeto, ‘Resista como uma mulher cega’.
Zuneide nasceu com glaucoma, depois teve catarata, deslocamento de retina e hoje tem ausência total de visão. “Depois da cegueira, direcionei minha vida. Então, entendi que para lutar por demais direitos, é preciso conhecer”. Foi a deixa para voltar à universidade e iniciar o curso de Artes Plásticas.
“Já chamou muita atenção o fato de alguém com pouca visão querer ser artista plástica. Daí começou a minha militância: o fato de eu estar naquele lugar já era uma forma de resistência”, contou. Ao entrar no curso, percebeu que sua presença desestabilizava o local.
E foi pensando na mudança que vinha com essa ‘desestabilização’ que teve a ideia de criar o projeto ‘Resista como uma mulher cega’, onde poderia reunir textos sobre violência psicológica, de gênero e agregar ao cotidiano da cegueira. Hoje, o site já tem 11 anos e continua denunciando a exclusão sofrida por deficientes visuais.
Segundo Zuneide, uma das pautas que parece mais inofensiva – mas, na verdade, é uma das piores -, é a acessibilidade comunicacional e a atitudinal. “Gera uma violência psicológica muito grande, que faz com que a pessoa cega deixe de participar de atividades básicas, como ir no supermercado ou ir trabalhar. Porém, não é o trabalho que é o sofrimento. É a dinâmica como ele ocorre”, conta.
Para ela, a falta de acessibilidade social é a pior. “Ela te destrói, te mata. São as pessoas que pensam que você não é capaz de estar em um determinado lugar e elas não conseguem esconder isso, então tomam atitudes discriminatórias sem sequer perceberem”, diz.
Estas atitudes podem soar simples – vão desde termos. Um exemplo é quando pessoas se referem à cegueira como “problema de visão”. “Não é um problema, é uma condição”, explica Zuneide. Outra situação é tratar a acessibilidade em ambientes como um favor, não uma obrigação.
Diante de todos esses entraves e encruzilhadas do dia-a-dia, “o que mais me incomoda é o silêncio”, reitera. Embora há anos exigindo direitos por meio de seus textos, Zuneide diz que nunca viveu os discursos autoritários como vive hoje – então, dar espaço e voz àqueles que fazem parte desta luta é essencial. “As piores pessoas são as que ficam caladas diante de injustiças e violações de direitos”, finaliza.