Privatização de bancos públicos pode ser ainda pior para o Maranhão
A privatização dos bancos públicos brasileiros, caso venha a ser realizada pelo Governo Federal, pode trazer consequências negativas para estados do Nordeste, especialmente o Maranhão. O presidente do Sindicato dos Bancários do Maranhão (SEEB-MA), Eloy Natan, falou sobre o assunto nesta segunda-feira (14) à Rádio Tambor.
Um dos pontos destacados pelo bancário é ligado ao déficit habitacional, agravado no país graças à crise econômica e ao desemprego. Segundo ele, o financiamento por moradias torna-se mais difícil de ser feito por famílias na faixa de renda de um a três salários mínimos, “a faixa de renda que os bancos privados, como o Bradesco e o Santander, não têm interesse nenhum em financiar. Grande parte dos financiamentos nessa faixa hoje são feitos pela Caixa Econômica”, explica.
Os últimos dados da Fundação João Pinheiro, do ano de 2015, apontavam o Maranhão como o 5º estado brasileiro com maior déficit habitacional: 392 mil lares estavam em falta. De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018, Cerca de 54,1% dos maranhenses vivem com menos de R$ 406 por mês. Com uma possível privatização, essas famílias teriam ainda menos chance de financiar uma casa.
Outro ponto levado pelo presidente do sindicato diz respeito à agricultura familiar do Maranhão, que também poderia passar a ter menos financiamento com uma privatização. “A agricultura familiar é uma das principais produtoras de alimentos e é financiada pelo Banco da Amazônia e do Nordeste, e o Maranhão é um dos maiores detentores da Amazônia Legal. São setores da população que acabam não sendo assistidos pelos bancos privados, e são os públicos que acabam atuando. Eles têm papel especial principalmente no Nordeste para financiar a agricultura familiar”, diz.
Privatização
Para Eloy Natan, embora os bancos públicos não estejam diretamente no pacote de privatização promovido pelo governo, o plano para que isso aconteça já está em curso. “Promovidos pelo ministro Paulo Guedes, os ataques que geram um sucateamento fazem parte do projeto de privatização não só dos bancos, mas de todas as estatais”, afirma.
Na última sexta-feira (11), o Sindicato dos Bancários do Maranhão fez uma audiência com esta pauta em continuidade do Lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos, em maio, em Brasília. “A gente tem certeza, agora, que temos como construir uma imensa frente pública em defesa dos serviços públicos”, afirma.
‘Não é uma luta em defesa do meu banco’
É muito importante que compreenda a pauta além de meramente coorporativa. “Não pode ser uma luta em defesa do meu banco, porque eu sou empregado do banco. É em defesa da reforma agrária, para o banco financiar a agricultura familiar e não o agronegócio, que já é bastante privilegiado; a solução do déficit habitacional e políticas públicas a partir dos bancos públicos.
Se privatizar, o país não vai mais ter controle sobre seu crédito habitacional ou fundiário, “o que podemos cair no processo de recolonização”, diz.
Há possibilidade de greve?
Os bancários fizeram acordo de não organizar greves por questões econômicas – reajuste de salários, por exemplo – até agosto de 2020. Porém, Eloy Natan acredita que movimentos da América Latina, como da greve geral no Equador, podem influenciar sindicatos e setores do Brasil a tomar os mesmos passos. “Os bancários, como categoria nacional que são, precisariam se organizar e apoiar esses movimentos”, pontua.