No início da década de 2020, o maranhense Ilson Mateus ostentou, que, tendo uma “origem humilde”, havia se tornado “o mais novo bilionário brasileiro”, figurando entre “as dez pessoas mais ricas do país, com uma fortuna avaliada em R$ 20 bilhões”.
Ilson é dono do Grupo Mateus, uma rede de supermercados fundada no Maranhão, conhecida por ser beneficiada com enormes incentivos fiscais do estado. Ainda assim, seu grupo foi condenado este ano a pagar mais de 1 bilhão de reais em multas à Receita Federal.
Diante disso, com um bilhão a menos ou a mais, perguntamos quanto o empresário Ilson Mateus costuma gastar em um jantar quando decide ir a um restaurante? Ou, melhor ainda, quanto ele desembolsa por dia com sua própria alimentação?
Os trabalhadores e as trabalhadoras do Supermercado Mateus, em São Luís do Maranhão – responsáveis diretos por sua riqueza – recebem R$ 102,00 por mês em ticket-alimentação, sendo que este só pode ser utilizado nas lojas do próprio grupo de Ilson.
Se fizermos as contas, isso equivale a R$ 3,92 por dia para alimentação.
Diante disso, surge a pergunta que já ecoa entre pessoas do Maranhão que trabalham: o que Ilson Mateus almoçaria com menos de quatro reais?
O abismo maranhense
Segundo o jornal Valor Econômico, o Grupo Mateus registrou, entre os meses de julho e setembro (terceiro trimestre deste ano), “um lucro líquido de R$ 379,2 milhões, representando um aumento de 20,9% em relação ao mesmo período do ano passado”.
Enquanto isso, funcionários do Supermercado Mateus em São Luís relatam adoecimento a partir do trabalho realizado.
Os trabalhadores podem cumprir jornadas superiores a 10 horas diárias nas lojas da cidade.
Nesse cenário de sobrecarga, alguns funcionários relatam que, embora contratados para uma função específica, frequentemente acumulam outras tarefas.
Sobre essas questões relacionadas as pessoas que trabalham no Supermercado Mateus de São Luís, existem registros no SINAN, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde.
Indiferente a essas denúncias sobre precarização, exploração e doenças do trabalho, um veículo da mídia oligárquica do Maranhão noticiou – em tom de animada propaganda – que o Grupo Mateus abrirá mais um supermercado em São Luís, em 2025.
Foi dito que a nova unidade “deve funcionar em um novo formato de loja, que alia supermercado, empório e serviço gourmet em um só espaço”, com “área diferenciada para adega de vinhos, comidas fitness, veganas e vegetarianas, além de produtos de diversos países”.
Insatisfação, demissões e MPT-MA
Há grande insatisfação com as condições de trabalho nas lojas do Supermercado Mateus em São Luís, mas muitos funcionários têm receio de se manifestar publicamente.
Esses problemas vêm de longa data, mas, nas últimas semanas, a insatisfação chegou a tal ponto que se fala abertamente sobre a possibilidade de greve nas lojas da cidade.
Nesse contexto, um grupo significativo de funcionários (mais de dez) foi demitido, supostamente por reivindicar direitos ou buscar apoio do Sindicato dos Comerciários, de São Luís.
A Agência Tambor tomou conhecimento que o Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA) vem acompanhando, nos últimos anos, diversos processos administrativos, inquéritos civis e ações judiciais relacionados aos direitos dos trabalhadores do Supermercado Mateus.
O detalhamento desse histórico, com os documentos arquivados no MPT-MA, pode explicar muito sobre as condições de trabalho no Grupo Mateus e seu poder no Maranhão.
Pautas críticas
O Sindicato dos Comerciários, de São Luís, divulgou um aviso de pauta para a imprensa local, informando sobre uma paralisação de advertência na loja da Cohama, na capital maranhense, marcada para o dia 06 de dezembro (sexta-feira), às 8h.
A manifestação ocorreu, e contou com o apoio de várias organizações, além do Sindicato dos Comerciários. Ela foi bem movimentada e chamou a atenção da sociedade. A Agência Tambor registrou o assunto em seu site, logo após o ato.
Segundo o sindicato, a mobilização busca melhores condições de trabalho e a solução de diversas pautas críticas, entre elas:
- Aumento no valor do ticket-alimentação;
- Redução da jornada de trabalho excessiva;
- Garantia de folgas aos domingos em escala 1×1, conforme previsto em lei;
- Combate ao desvio de função;
- Reajuste salarial justo e compatível com o aumento real;
- Transparência no banco de horas;
- Pagamento de 100% de gratificação nos feriados;
- Outras reivindicações essenciais aos trabalhadores.
O sindicato informou ainda que, em 03 de junho de 2024, encaminhou ao Sindicato Patronal as reivindicações da categoria para assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT 2024/2025).
O outro lado
A Agência Tambor entrou em contato com o Grupo Mateus, através do e-mail
[email protected].
Enviamos perguntas, referente a todas as questões tratadas nesta nossa matéria.
O e-mail foi enviado na tarde de quinta-feira (05/12), quase 24h antes da publicação do texto em nosso site.
Quando o Grupo Mateus responder, nós atualizaremos esta matéria.