“Eu não poderia deixar de falar do Maranhão, o estado mais pobre do país”. A frase foi dita pela professora Mary Ferreira, na tribuna do Senado. A maranhense foi homenageada por este mesmo Senado Federal.
Mary Ferreira foi uma das cinco mulheres do Brasil, a receber na última quarta-feira (06/03) o diploma Bertha Lutz.
Trata-se de um reconhecimento anual da casa legislativa, durante as atividades relacionadas ao Dia Internacional da Mulher. A senadora Eliziane Gama indicou o nome da professora, para receber a homenagem.
Mary Ferreira é bibliotecária, pesquisadora, professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), autora de livros importantes, referência do feminismo no Brasil e um quadro relevante do PT, militante do partido desde a fundação, tendo formalizado a filiação no início da década de 1990
A maranhense recebeu seu diploma em sessão solene, convocada especificamente para a entrega do prêmio. E assim como as outras quatro homenageadas, Mary teve direito a fala, isto é, teve acesso a tribuna do Senado Federal.
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Denúncia
Emocionada, Mary começou seu discurso dizendo que “minha luta central é a luta feminista, mas neste momento eu não poderia me furtar a falar do Maranhão, este estado mais pobre da federação”. Segundo ela, uma situação que “me envergonha e me provoca dor”.
Segundo o Censo do IBGE de 2022, o Maranhão é o estado com a maior proporção de pessoas em situação de extrema pobreza no Brasil.
O Maranhão tem 6 milhões e setecentas mil pessoas. Deste total, quase 10% (8,4%) vivem com menos de 200 reais por mês. E quase 60% (57,9%) estão em situação de pobreza, com renda de até R$ 637 reais por mês.
Mary disse que “não poderia jamais deixar de falar, porque foi para isso que eu estudei, foi por isso que eu sair da pobreza e fiz tanto esforço para me tornar uma pós-doutora e colocar meu conhecimento a serviço do Maranhão, da erradicação da pobreza, da miséria e da fome”.
Ao falar da miséria, Mary criticou a principal razão do problema maranhense, “a
crueldade do agronegócio e do latifúndio”. E ela citou especificamente a soja, definida pela professora como um “negócio vil”, que “traz miséria e fome para a grande maioria da população maranhense”.
Sobre o mesmo assunto, Mary também criticou duramente a Lei da Grilagem, uma barbaridade inconstitucional aprovada recentemente sob o comando de Iracema Vale (presidenta da Assembleia Legislativa do Maranhão) e sancionada imediatamente por Carlos Brandão, o atual governador do Estado.
Ainda sobre Carlos Brandão, ela criticou outro absurdo, outra barbaridade que é a ameaça de “privatização da Casa do Maranhão”, espaço público que vinha sendo destinado para a comercialização de produtos da economia solidária, da agricultura familiar, artesanato, além de ter um museu de enorme relevância social.
Registros fundamentais
Mary também falou de sua história de vida, de sua família. Ela informou ter nascido em uma vila de pescadores no bairro da Ponta da Areia, em São Luís, uma comunidade que foi “expulsa pela elite”. Tratou evidentemente da luta feminista, citando várias figuras do movimento, figuras de ontem e de hoje.
A homenageada também lamentou a aliança que o PT fez no passado com a oligarquia Sarney e ressaltou a importância das pesquisas que são feitas na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), ignoradas pela classe política maranhense, de perfil ultraconservador.
A fala da petista maranhense também reservou um espaço especial para as quebradeiras de coco babaçu, falou da luta das professoras e da importância fundamental das bibliotecas e das bibliotecárias para a cultura, leitura, informação e pesquisa escolar.
Sobre Bertha Lutz
A bióloga e advogada paulista Bertha Maria Julia Lutz foi uma das figuras mais significativas do feminismo e da educação no Brasil do século XX. Aprovada em um concurso público para pesquisadora e professora do Museu Nacional no ano de 1919, tornou-se a segunda brasileira a fazer parte do serviço público no Brasil.
Tomou contato com o movimento feminista ao estudar na Europa. No retorno ao Brasil, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF). Uma das principais bandeiras levantadas por Bertha Lutz na época era garantir às mulheres o direito de votar e de ser votada. Isso só ocorreu no Brasil em 3 de maio de 1933, na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte.
Bertha Lutz foi eleita suplente para a Câmara dos Deputados em 1934. Em 1936 assumiu o mandato de deputada, que durou pouco mais de um ano. Ela faleceu em 1976, no Rio de Janeiro.
(Com informações do Senado Federal)