Rindo à toa? A investigação da Polícia Federal faz parte da paisagem? Por que Brandão não demite o secretário? O absurdo será naturalizado? O caso merece atenção e precisa de respostas. Um secretário de Estado do governo de Carlos Brandão é suspeito de envolvimento com organização criminosa, corrupção, peculato, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro.
A informação é da Polícia Federal (PF) e se refere a Fábio Gentil, atual secretário de Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão.
Ele foi alvo de uma operação da PF realizada há um mês, no dia 19 de agosto, quando agentes estiveram em sua residência e apreenderam alguns bens. As investigações dizem respeito ao período em que Fábio Gentil era prefeito da cidade de Caxias, entre 2021 e 2024.
Escolhido a dedo?
Mas, em 2022, três anos antes de ingressar na atual gestão estadual, Fábio Gentil já havia sido alvo de outra operação policial. Naquele ano, a PF apreendeu dinheiro em espécie em sua residência.
Nesse caso anterior, que também se tornou notícia fora do Maranhão, a investigação tratava de recursos desviados da área da saúde, quando o então prefeito já era investigado por peculato, corrupção passiva, corrupção ativa, fraude em licitação e lavagem de dinheiro.
Agora, o caso volta a ser gravíssimo. Segundo a Polícia Federal, houve o desvio de R$ 50 milhões em recursos públicos que deveriam ter sido destinados à educação.
Rindo à toa
Após essa operação mais recente na casa de Fábio Gentil, o caso ganhou novamente repercussão na imprensa do Maranhão e de outros Estados. No entanto, o que deve chamar ainda mais a atenção é o que veio depois.
O governador Carlos Brandão simplesmente não demitiu Fábio Gentil. E mais: poucos dias após a ação policial, ainda em agosto, o governo do Maranhão escalou o mesmo secretário para conceder entrevistas sobre as atividades da 65ª Expoema, evento realizado entre 31 de agosto e 7 de setembro.
E assim, durante a principal exposição agropecuária do Estado, Carlos Brandão e Fábio Gentil participaram juntos de atividades, acompanhados por parlamentares, prefeitos, outras autoridades e representantes do agronegócio.
Em várias fotos oficiais divulgadas pelo governo, Brandão e Gentil aparecem unidos, alegres, bastante sorridentes, uniformizados com camisas promocionais da atual gestão.
Antiga paisagem?
Diante de uma investigação tão grave, envolvendo a Polícia Federal, Fábio Gentil não deveria ter sido afastado do governo de Carlos Brandão? Não seria essa a atitude óbvia — e esperada?
Não seria o caso de exoneração imediata, para que ele pudesse se defender sem constranger o governo — e, sobretudo, o próprio governador?
Ou será que esse novo episódio não causa nenhum incômodo? Ninguém se envergonha? Não há constrangimento do governo ou do governador? Nenhum acanhamento?
Estaríamos apenas testemunhando a repetição de um velho padrão oligárquico da política maranhense? Por que a grande mídia conservadora silencia?
A suspeita de desvio de milhões de reais em recursos públicos faz parte da antiga paisagem do poder no Maranhão? Ou será que o que estamos vendo é a reafirmação da fé na impunidade?
O outro lado
A Agência Tambor enviou e-mail ao governo de Carlos Brandão na terça-feira (16/09), três dias antes da publicação desta matéria. Até o momento, não obtivemos retorno. Caso a resposta seja enviada, atualizaremos o texto.
Já o ex-prefeito de Caxias e atual secretário de Agricultura do Maranhão, Fábio Gentil, enviou nota a diversos veículos do país negando envolvimento nas irregularidades investigadas pela Polícia Federal (PF) e sempre repetindo que vem colaborando integralmente com as autoridades responsáveis pelas investigações, dizendo que estaria apresentando todos os esclarecimentos solicitados.