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Mulheres debatem participação política e enfrentamento à violência em São Luís

O fortalecimento da democracia passa, necessariamente, pela escuta e pela inclusão das mulheres em sua pluralidade. Em São Luís, movimentos sociais e coletivos feministas se articulam para retomar o protagonismo feminino nas decisões políticas, após anos de retrocessos nas políticas públicas voltadas para mulheres.

Em um município com 31 cadeiras na Câmara de Vereadores, apenas seis são ocupadas por mulheres — menos de 20% do órgão legislativo. Trata-se da capital de um estado que, entre outros problemas sociais relacionados ao grupo, apresenta um dos maiores índices de violência contra a mulher no país. O Maranhão é o segundo estado do Nordeste em número de agressões e tentativas de feminicídio, segundo levantamento da Rede de Observatórios da Segurança. A capital acompanha esse triste cenário com números igualmente preocupantes.

Discutir políticas voltadas para esse segmento social — que representa, nada menos, que 51,5% da população da capital maranhense, de acordo com o último censo do IBGE (2022) — é fundamental. Para isso, no próximo sábado, 19 de julho, será realizada a Plenária de Mulheres rumo à Conferência Municipal de Políticas para as Mulheres. A atividade acontecerá das 8h às 13h, no Sindicato dos Bancários, no Centro de São Luís, e reunirá representantes da sociedade civil para discutir temas como igualdade, democracia e direitos sociais.

As conferências são espaços estratégicos para o debate entre diferentes instituições e setores. Trata-se de um encontro que promove a escuta qualificada das mulheres em sua diversidade de articulações: nos territórios, nos movimentos, como trabalhadoras, gestoras e conselheiras em políticas públicas.

Para Rielda Alves, do Coletivo de Mulheres Resistência Feminista, a plenária representa mais do que um evento: é uma resposta coletiva à tentativa de silenciar e excluir as mulheres dos espaços de decisão. “Retomar as conferências é uma forma de dizer que nada deve ser feito sem nós. É fazer pressão popular para que governos avancem nas pautas que realmente importam para quem sente na pele a desigualdade”, afirmou.

A jornalista Zeni Pinheiro, da União Brasileira de Mulheres, destacou a importância da escuta local e da diversidade no processo democrático. “As mulheres indígenas, quilombolas, da zona rural, com deficiência — todas precisam ter voz. As conferências livres garantem esse espaço sem tanta burocracia, e isso é revolucionário”, afirmou. Ela lembra que o tema da conferência nacional — mais democracia, mais igualdade, mais conquistas para as mulheres — reflete o momento atual de reconstrução.

Durante a entrevista ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor, as convidadas chamaram atenção para o desmonte da participação social durante o governo federal anterior, que reduziu drasticamente os conselhos previstos na Política Nacional de Participação Social: de 700 para menos de 50. “Isso é sintomático. Foram anos de retrocessos e de violência institucional. Agora é hora de reconstruir”, disse Rielda.

📌 [Confira a entrevista na íntegra ao final da matéria.]

Entre os desafios citados, a ausência de uma Secretaria Municipal da Mulher com orçamento próprio em São Luís foi apontada como grave. “O último plano municipal de políticas para mulheres é de 2011. Sem estrutura adequada, ficamos na corda bamba entre o que é possível propor e o que realmente será executado”, alertou Zeni. A presença de vereadoras que votam contra os direitos das mulheres também foi criticada.

As participantes destacaram temas urgentes que afetam diretamente a vida das mulheres, como o feminicídio, a sobrecarga de trabalho não remunerado e a invisibilidade de demandas específicas — como creches, lavanderias públicas e ambulatórios especializados. “Falta acesso a dados desagregados por gênero e raça. Sem isso, como vamos construir políticas públicas eficazes?”, questionou Rielda.

A plenária deste sábado é apontada como um momento estratégico para que mulheres de diferentes territórios e contextos sociais compartilhem suas experiências e construam propostas concretas para a Conferência Municipal, que ocorrerá nos dias 21 e 22 de julho. “Nós sozinhas andamos bem, mas juntas andamos melhor. Essa luta é por nossas vidas, por dignidade e por direitos”, concluiu Rielda.

👉 Confira a entrevista completa no programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.

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