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Menina da Saia Verde! Patativa é parte da nossa vida maranhense

Em um Maranhão onde a elite alicia, submete, manipula, agride e/ou ignora a rica cultura local, Patativa lançou seu primeiro CD aos 77 anos Foto: divulgação

“Vai, vai com Deus, descanse em paz de todos sofrimentos teus. (…)
Cavado e o maraca ficaram triste. Tua retinta emudeceu.
Teu canto não mais existe no bairro da Madre Deus”

Maria do Socorro Silva, a Patativa, se despede. A sambista maranhense nascida em 1937, no município de Pedreiras fez história no mundo da música a partir da Madre Deus, bairro do Centro de São Luís.

Conhecida pelo talento e irreverência, a cantora e compositora faleceu aos 88 anos de idade, na capital Maranhense, no bairro da Vila Embratel, na área Itaqui-Bacanga.

Com a notícia do falecimento de Patativa, ocorrido no dia 6 de maio, a Agência Tambor prestou sua homenagem nas redes sociais, afirmando que, para nós, a história da artista se refere a samba, cultura, território, afeto e identidade. Trata-se da vida — da nossa vida maranhense. E afirmamos o óbvio: Patativa é semente.

“Ninguém é melhor do que eu”

Reza a lenda que o apelido “Patativa” surgiu a partir de uma história divertida. Em uma noite, ela estava em um bar com seu amigo Justo Santeiro. Os dois se desentenderam, e ela o chamou de “amigo da onça”. Ele, então, retrucou: “E você, que parece uma patativa de tanto que fica cantarolando!”

A partir desse momento, “Patativa” virou não apenas um apelido. O nome do pássaro se tornou símbolo da cultura maranhense. Uma artista que cantou, encantou e deixou um legado que, com certeza, continuará embalando — com sua voz e poesia — as histórias de milhares de pessoas.

E através da irreverência e até do humor, como os sambas como Xiri Meu e Não Faço Nada sem Poder, a artista desafiava.

“Menina da saia verde, casaco da mesma cor, pega no meu de mijar e bota no teu mijador

Eu não dou (xiri meu)

Eu não dou (xiri meu)

Sai dai nego indecente, educação Deus não te deu. Tu morre de dente seco, mas não pega xiri meu”

Xiri Meu – Patativa

Em um Maranhão onde a elite alicia, submete, manipula, agride e/ou ignora a rica cultura local, Patativa lançou seu primeiro CD, “Ninguém é Melhor do que Eu”, aos 77 anos, em 2014. O disco é totalmente autoral.

Com produção do instrumentista Luiz Júnior e do cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro, o CD traz 13 faixas selecionadas entre muitas composições de seu vasto acervo.

O disco contou, ainda, com convidados especiais como Zeca Pagodinho, Simone e o próprio Zeca Baleiro. Na época, Patativa comemorou: “Nem nos meus melhores pensamentos achei que meu primeiro disco ia ter essas participações. Não queria morrer sem fazer um disco. Então, estou muito feliz de ter essas pessoas comigo, essas beldades cantando as minhas músicas. É uma honra muito grande”.

Quatro anos depois, aos 81 anos, Patativa lançou seu segundo disco, “Sou de Pouca Fala”. A produção foi novamente assinada por Zeca Baleiro e Luiz Júnior Maranhão. Lançado pela Saravá Discos, o CD tem 13 faixas, incluindo Cacuriá e Mina e Xote, esta última com participação vocal de Baleiro.

Samba pra São Jorge

A entrada de Patativa no mundo do samba aconteceu como acompanhante da Turmas do Quinto, do Cruzeiro e dos Fuzileiros da Fuzarca, sempre ao lado dos batuqueiros.

Em 1980, ingressou oficialmente como componente da Turma do Quinto, desfilando na ala das baianas, a convite do seu companheiro Vavá — amo do Boi da Madre Deus e diretor de harmonia da escola de samba.

Fuzileiros da Fuzarca: uma referência do samba presente na história de Patativa Foto: Thiago Veloso/O Imparcial.

A cantora Lena Machado, que gravou Colher de Chá, composição de Patativa, no disco Samba de Minha Aldeia (2010), escreveu em rede social: “É assim que quero lembrar dela: com sua irreverência e alegria, seu senso de humor apurado e sagaz! Patativa Silva partiu!”

Lena reforçou que Patativa “deixa um legado forte de amor pelo samba, pela cultura maranhense, pela liberdade e pelo empoderamento feminino. Sempre foi assim que vi essa mulher compositora que circulava livre pelas rodas de samba, pelo Mercado das Tulhas e pelo circuito cultural da Madre Deus!”

Por fim, Lena relembrou que Patativa “nos acolhia em casa e contava suas histórias de vida de um jeito que nos fazia rir das coisas inusitadas que viveu — e até dos desafios que enfrentou desde pequena”. Ressaltou ainda que ela foi “nossa Colher de Chá de encantamento e alegria na dura arte de viver de arte neste lugar chamado Maranhão”.

Já o cantor, compositor e jornalista maranhense César Teixeira escreveu ao postar um videoclipe em uma rede social: “Para lembrar a cantora e compositora pedreirense Maria do Socorro Silva, que nos deixou de pandeiro na mão e foi cantar samba pra São Jorge.”

Patativa em nosso baile

Patativa fez parte do processo histórico que resultou na Agência Tambor. A sambista esteve presente no Baile Tarja Preta — uma ação artística, política e cultural que comemorou os seis anos do Jornal Vias de Fato, projeto de comunicação que está no DNA da Agência.

O baile aconteceu no dia 14 de novembro de 2015 e Patativa teve uma participação especial. Ela cantou ao lado de César Teixeira, um dos fundadores do Vias de Fato, que a convidou para participar da festa.

Patativa participou do Baile Tarja Preta, evento que comemorou um dos aniversários do Jornal Vias de Fato

Lembramos que a letra da música Ponto de Fuga, de Chico Maranhão, foi interpretada por Tássia Campos e César Teixeira no material de divulgação do Baile, produzido pela Carabina Filmes.

“Diga que o samba não é tua vida,
Que o samba não te dá comida,
Que o samba não bole contigo.
Diga que o samba não é companhia,
Que a roda de samba é agonia,
Que a Turma do Quinto é castigo.”

O samba foi a vida de Patativa. E Patativa é parte da vida de muitos maranhenses.

E entre as características da ave, além do gorjeio melodioso, está a territorialidade e o seu canto é usado para defender esse domínio.

Sendo assim, contrariando (e só aqui) a poesia da sambista, que está no abre deste texto – teu canto, Patativa, sempre existirá (e resistirá) na Madre Deus, no Maranhão e no Universo.

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