
Mário Macieira: Um advogado brilhante de primeira grandeza
Por: Flávia Regina
Sou jornalista profissional desde os 21 anos. Durante mais de três décadas de atuação ininterrupta, um dos maiores orgulhos da minha diversificada trajetória foi ter sido convidada para ser coordenadora da Assessoria de Comunicação da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Maranhão (OAB-MA), sob a Presidência do advogado Mário Macieira, após duas vitoriosas campanhas eleitorais.
Mário era absolutamente brilhante, uma conjugação de inteligência primorosa, humanidade, com irreverência e bom humor. Despojado, possuía certa dose de humildade rara no meio jurídico mais sisudo, o que não o impedia de ser um advogado destemido e combativo. Era um guardião dos direitos, sobretudo dos direitos humanos, para a minha satisfação profissional e de meus princípios.
À frente do Núcleo de Comunicação da OAB-MA, criamos uma publicação mensal, com projeto editorial que trazia colunas como Trâmites e Estante do Advogado, Entrevista nas páginas centrais, em formato tão agradável que os advogados chamavam de “revista”. Um boletim eletrônico era enviado diariamente por e-mail a cada inscrito na Ordem, com todas as informações atuais de interesse da classe, além de um novo site e da produção de publicações especiais como um Caderno Especial encartado nos jornais locais sobre os “80 anos de história irrevogável da OAB”. Era uma equipe de excelência, sob direção do advogado Antonio Nunes, presidente da inédita Comissão de Eventos e Comunicação Estratégica, criada pela gestão: Alice Pires, Aline Cristina, Handson Chagas, Eudemar Gomes e outros que também passaram por lá.

Jornal produzido pela gestão de Mário Macieira na OAB-MA: comunicação agregando valor e reputação à classe
Como herdeira de pais que zelaram a vida toda pelo vernáculo como professores de escolas e, posteriormente, do Departamento de Letras da UFMA, tive o privilégio de ler textos, pronunciamentos e discursos, feitos por ele, com aquela rara admiração de quem foi educada para ser exigente no trato com a língua portuguesa tão bem polida pela retórica jurídica de Macieira.
Um dos mais emblemáticos artigos feitos por Mário foi em resposta ao jurista Saulo Ramos, durante a polêmica competência legal ou não da OAB-MA para propor Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra o projeto aprovado pela Assembleia Legislativa que estatizou a Fundação Sarney. Com primor na escrita, ele registrou:
“Em desabalada e precipitada carreira, para socorrer os que de socorro não precisam, o Dr. Saulo Ramos se arremessa dos píncaros do Olimpo para esgrimir argumentos contra uma ação que a OAB/MA ainda nem mesmo decidiu se vai fazer. É que cometeu o pior dos erros de um advogado, argumentou por ouvir dizer”.

“É claro que as lições de um tão elevado jurista sempre são bem-vindas para nós outros mortais que não habitamos o Olimpo. Porém, permitam-nos esclarecer ao pródigo defensor dos oprimidos, que a OAB-MA não dá azo a paixões, favorecimentos ou perseguições partidárias. Por aqui, atuamos com destemor, com altivez, porém com serenidade e respeito a todos, sem arredar um só milímetro do compromisso de defender as finalidades institucionais da OAB, dentre as quais a defesa da Ordem Constitucional”.
No artigo, a verve elevada e afiada de Mário deixava lições hoje tão essenciais em tempos de assaltos à democracia e intolerância de todos os matizes:
“Por derradeiro, que não se preocupe o escriba, não nos agastaremos com suas fotos, nem nos irritamos com suas críticas, na OAB, ambiente democrático, todos têm direito às suas posições, aos seus entendimentos e interpretações. A democracia sobrevive do dissenso e do pluralismo, em um ambiente no qual o respeito recíproco e a tolerância à minoria são o princípio a partir do qual do contraditório nasce a verdade.”
Durante o enterro do ex-presidente da OAB-MA, na manhã desta sexta-feira (1), no cemitério do Gavião, recebi do historiador e professor universitário, Wagner Cabral, uma sagaz informação: o túmulo de Mário Macieira terá como vizinhos os de Neiva Moreira e de Joãosinho Trinta. A alegria carnavalesca e a subversão revolucionária do neto de Maria Aragão estarão para sempre nas lembranças de quem conviveu com ele.
Fonte: buliçoso.com.br