
O Maranhão é o segundo estado com mais conflitos no campo no Brasil, atrás apenas do Pará. É o que revela o “Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro – 1985-2023”, lançado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Durante o período, a CPT identificou 50.950 conflitos no campo do Brasil, sendo 80% destes conflitos causados por atores hegemônicos (fazendeiros, empresários, grileiros etc.) e 20% de ações de resistência movidas pelos movimentos sociais do campo (ocupações, retomadas e acampamentos).
Mais de 50% dos municípios brasileiros tiveram registros de conflitos; no entanto, o Maranhão responde por 4.593 destes conflitos, confirmando o estado como um cenário permanente de disputas por terra. Os dados mostram que os conflitos se espalham por quase todo o território, com alta reincidência de violência nas mesmas localidades.
O documento, disponível para download gratuito, consolida quatro décadas de dados sobre violências no campo.
Trabalho escravo no Oeste e Sul
A violência no Maranhão também tem rosto de exploração laboral. O estado aparece como o 2º em ocorrências de trabalho escravo (411 casos), com duas regiões em destaque no mapa do crime:
Oeste do estado, integrando uma grande mancha com Pará e Tocantins.
Sul do Maranhão, na região do Matopiba, fronteira agrícola que avança sobre o Cerrado.
O município de Açailândia se destaca nacionalmente, com 94 casos.
Contexto histórico
O Atlas aponta que a violência está ligada à expansão de grandes projetos, como o Programa Grande Carajás, nas décadas de 1980 e 1990. Naquele período, os conflitos na Amazônia Legal já se concentravam no Maranhão. Paralelamente, o estado também foi palco de resistência, respondendo por 9,6% das ocupações e acampamentos pela terra na região.
Os dados posicionam o Maranhão como um dos estados mais críticos em violência fundiária e exploração no Brasil.
Documento histórico
O Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro é um documento inédito que traz uma radiografia do campo no Brasil por meio da análise de quase quatro décadas de conflitos. Trata-se do mais abrangente, rigoroso e sistemático levantamento de dados sobre os conflitos no campo existente no país.
Além da Apresentação e Introdução, o documento está organizado em seis capítulos, complementados com quadros, mapas e gráficos ao longo de suas 280 páginas.
O resultado é uma construção conjunta do Grupo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Geografia Agrária (GeoAgrária), da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e do Laboratório de Estudos sobre Movimentos Sociais e Territorialidades (Lemto), da Universidade Federal Fluminense (UFF), com a contribuição de 34 pesquisadores de diversas universidades do país, em parceria com a CPT.