Retomar o espetáculo significa, para Heineck, manter viva a memória de Pazzini. Imagem: reprodução Criado em 2019 por Wagner Heineck e Luiz Pazzini, o projeto Leituras Dramáticas: Resistência Urgente nasceu como uma resposta artística aos ataques à democracia e à liberdade de expressão no Brasil,durante o período. A iniciativa transformou textos teatrais em instrumento de reflexão sobre os tempos sombrios que marcaram a vida política e cultural do país.
Mais de quatro anos depois, a proposta segue atual. Retomar o espetáculo significa, para Heineck, manter viva a memória de Pazzini — vítima da Covid-19 em 2020 — e reafirmar a arte como ferramenta de resistência diante do avanço de discursos autoritários.
A ideia de montar as leituras surgiu ainda em 2016, após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a extinção do Ministério da Cultura. “Nós já discutíamos o que estava acontecendo e sentíamos que era preciso reagir. Quando veio a eleição de Bolsonaro, a inquietação se tornou urgência”, relembrou Wagner Heineck, em entrevista no programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.
[Veja entrevista na íntegra ao final desta matéria.]
Inspirados em textos como Novas Diretrizes em Tempos de Paz, de Bosco Brasil, e o depoimento de Bertolt Brecht em 1948, Heineck e Pazzini decidiram costurar fragmentos e apresentá-los em formato de leitura dramatizada. “Nunca quisemos montar um espetáculo fechado. O objetivo era provocar o público e abrir espaço para reflexão sobre o militarismo e o fascismo”, destacou o ator.
As apresentações circularam por escolas, centros culturais e movimentos sociais na Grande Ilha de São Luís. Em cada encontro, o impacto era imediato. “Chegávamos a lugares que não estavam acostumados com arte e, ainda assim, o silêncio e a atenção eram absolutos. As pessoas se reconheciam naquele debate sobre repressão e fake news”, contou Heineck.
O projeto ganhou o título Resistência Urgente por sugestão de Pazzini, que via a memória como parte essencial da luta cultural. “Ele sempre dizia que lembrar é resistir. Foi ele quem insistiu que a palavra ‘urgente’ precisava estar no nome”, acrescentou Heineck.
Além de provocar reflexão, a experiência fortalecia laços. “Os debates após as leituras eram tão intensos quanto a própria encenação. Havia questionamentos, trocas de vivências, um verdadeiro exercício de cidadania”, relembrou o ator, emocionado.
Para Heineck, a atual conjuntura torna o trabalho ainda mais necessário. “Mais do que em 2019, hoje ele se encaixa perfeitamente. Vivemos novas formas de repressão, com fake news e ataques às políticas públicas. Por isso é preciso continuar cutucando, mostrando que a arte transforma”, afirmou.
A retomada do projeto está prevista para ocorrer em parceria com o artista Urias de Oliveira, em formato de homenagem a Pazzini. “É uma maneira de dizer que ele segue presente. A arte nos lembra que a vida continua e que a memória não pode ser apagada”, disse Heineck.
Ao final da entrevista, o ator citou o legado de seu parceiro. “Pazzini deixou muitos filhos e filhas no teatro, dentro e fora da universidade. Sua luta pelo direito à cultura permanece viva. Resistir ainda é urgente”, concluiu.
Assita a entrevista completa concedida ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.