
O povo indígena Ka’apor realizou, pela quarta vez, a Marcha pelo Bem Viver da Floresta. A edição deste ano ocorre em um momento crítico: a Justiça Federal do Maranhão suspendeu recentemente o projeto da empresa norte-americana Wildlife Works Carbon (WWC), que pretendia comercializar créditos de carbono dentro do território indígena sem o consentimento do povo Ka’apor.
Organizada desde 2022, a mobilização tem como princípio a defesa dos direitos da natureza e do território tradicional onde vivem: a Terra Indígena Alto Turiaçu, no oeste do Maranhão. A manifestação também serve de homenagem à liderança Sarapó Ka’apor, símbolo da resistência da comunidade, assassinado em 2020.

A marcha é uma das expressões mais importantes da autonomia política e espiritual do povo Jumu’eha Renda Keruhu (Ka’apor), que vive sob o princípio do Bem Viver, orientado pela ancestralidade e pela proteção do território. A experiência tem garantido a preservação de uma das áreas mais conservadas da Amazônia maranhense — essencial não apenas para os povos da floresta, mas para o equilíbrio climático de todo o Nordeste.
Crédito de carbono WWC
Uma decisão recente da Justiça do Maranhão suspendeu o projeto de crédito de carbono da empresa norte-americana Wildlife Works Carbon (WWC) na Terra Indígena Alto Turiaçu, no Estado.
A conquista foi pauta do Dedo de Prosa, programa de entrevista da Agência. Em junho, Gilderlan Rodrigues e Gabriel Serra, representantes do Conselho Indigista Missionário no Maranhão, falaram sobre o assunto e as preocupações dos povos da região.
A medida atende à reivindicação do Conselho de Gestão Ka’apor, que tem denunciado o avanço de empresas e ONGs estrangeiras sobre áreas protegidas com base em contratos de venda de carbono, que desrespeitam o modo de vida e a autodeterminação dos povos originários.
Segundo o Conselho, o projeto tem aprofundado conflitos internos e viola o princípio de que “a floresta não se vende”. O povo Ka’apor rejeita o projeto e, junto a organizações aliadas, como o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), vem impulsionando uma campanha de pressão pública contra a Wildlife Works, com um abaixo-assinado que segue disponível online.
Assista ao vídeo produzido pelo Conselho Ka’apor denunciando a atuação da empresa.
A Marcha pelo Bem Viver da Floresta também reafirma o protagonismo indígena na preservação da Amazônia e no combate às falsas soluções ambientais, como os mercados de carbono que lucram com a floresta em pé, mas excluem os povos que a conservam há séculos.