
O medo faz parte da vida das crianças — a tristeza, também. Mas e quando esses sentimentos são reforçados e naturalizados por elas diante do ambiente em que vivem? Um ambiente onde coabitam com a violência alimentada pela grilagem de terras, pelos ataques a comunidades rurais e pelas ações de latifundiários envolvidos em diferentes formas de corrupção.
Essa naturalização, por exemplo, leva crianças a mesclarem riso e brincadeira – gestos típicos da infância – quando relatam um ataque brutal de pistoleiros à sua comunidade.
A dura realidade descrita acima está no filme “Crianças do Gurupi”, do cineasta Daniel Moreno, que foi entrevistado pela Agência Tambor, na quinta-feira (08/05).
(Veja o vídeo com a entrevista de Daniel ao final deste texto.)
Daniel Moreno é cineasta e dirigiu o curta-metragem que traz o depoimento de duas crianças do assentamento Novo Paraíso, no município maranhense de Carutapera, sobre um ataque de pistoleiros à própria comunidade. O ataque ocorreu em decorrência de um conflito fundiário.
Trata-se de uma barbárie vivida no Maranhão. Duas crianças foram baleadas durante a ação – uma delas foi ouvida e está presente no curta. A outra que participa da montagem teve a casa destruída. Segundo Daniel, a naturalização da violência por parte delas “é uma forma de defesa. É também uma forma de resistência”.
Foi no dia 12 de outubro de 2024, o Dia das Crianças, que o cineasta pensou em realizar o curta. Na ocasião, ele estava no assentamento Novo Paraíso, participando de uma ação com jovens do grupo Filhos do Povo.

Produzido pela Ruído Filmes, “Crianças do Gurupi” foi lançado no dia 21 de abril, em Carutapera, no povoado Novo Paraíso.
Na entrevista à Agência Tambor, Daniel Moreno comenta sobre a reação da comunidade diante da exibição do filme.
Para que o curta fosse realizado, a própria comunidade de Novo Paraíso viabilizou as condições para gravar, editar e reproduzir o material em um local sem energia elétrica, utilizando apenas geradores a gasolina.
O filme é inspirado no curta Far Away from Home (1969), de Qais al-Zubaidi, que relata o drama vivido por crianças na Palestina.
Crianças do Gurupi agora será levado a festivais antes de ser disponibilizado em plataformas digitais.
(Veja abaixo a íntegra da entrevista de Daniel Moreno à Agência Tambor.)
Nota: A entrevista teve alguns problemas técnicos, devido à má qualidade do serviço de internet oferecido pela Claro na cidade de São Luís. Ainda assim, foi possível realizá-la.