Arquivo Público do Maranhão: acervo histórico sob ameaça aguarda obras do governo estadual (Imagem: Acervo Arquivo Público do Maranhão) O acervo do Arquivo Público do Maranhão, guardião de documentos que remontam ao século XVII, está sob ameaça. Professores, pesquisadores e historiadores denunciam o risco de perda irreversível desse patrimônio devido à falta de manutenção do prédio, interditado desde janeiro pelo Corpo de Bombeiros. A estrutura, localizada na Rua do Giz, no Centro Histórico de São Luís, corre o risco de desabar enquanto o governo estadual não executa as obras prometidas no início do ano.
Segundo a historiadora Regina Faria, a situação é crítica. “O prédio histórico está comprometido, e a transferência da documentação ainda não foi feita. Estamos apavorados, porque as chuvas já começaram e o acervo pode ser destruído”, afirmou. Ela explicou que, embora existam recursos federais assegurados para a restauração, o impasse entre a Secretaria de Cultura e a Secretaria de Governo tem atrasado o processo. “Um diz que não há recursos; o outro, que o projeto não foi finalizado. E o arquivo continua interditado.”
O historiador Manoel Martins reforçou o alerta, lembrando que o acervo é único no Brasil pela sua abrangência e valor histórico. “São registros que testemunham o funcionamento da máquina pública desde o período colonial. Se esse prédio ruir, vai junto uma parte da nossa memória coletiva. É responsabilidade do Estado cuidar desse patrimônio”, declarou. Ele também destacou a carência de pessoal: “O número de servidores diminuiu drasticamente, e hoje o acervo não recebe o tratamento técnico que precisa.”
O prédio abriga milhares de documentos da antiga capitania e província do Maranhão, além de acervos valiosos como o da Arquidiocese de São Luís e do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que reúne registros do período da ditadura militar. “Perder esse material é impedir que futuras gerações conheçam sua história. É matar a possibilidade de entender o nosso passado”, lamentou Regina Faria.
Ela lembrou que a perda afetaria diretamente a produção acadêmica. “Pesquisas de graduação, mestrado e doutorado estão paradas. Muitos estudantes tiveram de mudar de tema por não terem acesso aos documentos. Isso representa um prejuízo imenso para a história e para a identidade do povo maranhense.”
Para Manoel Martins, a omissão do Estado beira o crime cultural. “Não atuar para preservar o arquivo é um crime. A digitalização do acervo seria uma política essencial, mas nem o quadro de servidores é suficiente, quanto mais para um trabalho especializado como esse”, criticou. Ele também mencionou o laboratório de restauração de papéis, um dos primeiros do Nordeste, hoje praticamente inativo por falta de insumos.
Os professores apontam ainda que a transferência provisória do acervo, prevista para um anexo do antigo Colégio Marista, não atende às exigências de conservação. “São estruturas metálicas que esquentam e esfriam conforme o sol, o que pode danificar o material. É urgente adaptar esse espaço de forma adequada”, defendeu Regina.
Além dos danos físicos, os pesquisadores denunciam o desrespeito aos profissionais do Arquivo Público. “Temos um coração derrotado. Trabalhamos por décadas para organizar esse acervo, e agora vemos tudo ameaçado por inação do Estado”, desabafou Martins.
A sociedade civil também tem se mobilizado, com protestos e cartas abertas enviadas ao governo Carlos Brandão (PSB). O Ministério Público acompanha o caso, mas até agora as reivindicações não foram atendidas. “O governo precisa agir antes que a história do Maranhão se perca sob os escombros”, alertou Regina.
Regina Faria e Manoel Martins estiverema no programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor. Veja a entrevista completa com os historiadores.