Fonte: Giovana Kury/Vias de Fato
Neste mesmo dia 29 de agosto no ano de 1996, acontecia no Rio de Janeiro o 1ª Seminário Nacional de Lésbicas, onde foram discutidos pela primeira vez, em um grande evento, os desafios e obstáculos enfrentados especificamente pelas mulheres ‘sapatão’ – ou homossexuais. Mais de duas décadas depois, a data permaneceria marcada pelo Dia da Visibilidade Lésbica – um tabu atemporal dentro do grupo LGBT. A ativista Lêda Rêdo foi entrevistada nesta quinta-feira pela Rádio Tambor, onde discutiu o tema.
Por que a questão ‘visibilidade?’ Lêda explica que ainda é muito difícil para uma mulher se assumir e autoafirmar lésbica, inclusive dentro do movimento gay. Por isso, ela brada: “afirmar nossa sexualidade é um ato político”. “Somos invisíveis. Então, se você se afirma lésbica, passa a ter voz e assim vai poder afirmar e lutar não só por você, mas também pelas mulheres que não têm”.
Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Lésbicos, Bi e Trans (NEPLBT), Valéria Siqueira diz que essa invisibilidade está presente também no movimento feminista. Segundo ela, a causa disso é o discurso heteronormativo atrelado aos papéis de gênero impostos a mulheres, que retrata “relações heterossexuais como as únicas aceitas e existentes na sociedade”.
“Então as pautas específicas sobre as lésbicas, suas vivências, suas necessidades, suas práticas acabam sendo silenciadas, e por isso que foi necessário ter um afastamento do movimento feminista e do movimento gay, formado por homens gays”, conta Valéria. Assim, na década de 90, inflou-se o movimento de mulheres lésbicas no Brasil, dando origem à luta que vemos hoje presente em cada vez mais espaços.
Lesbofobia
São diversas as opressões vividas por mulheres lésbicas no cotidiano brasileiro. As manifestações da lesbofobia podem ser identificadas em pequenos hábitos cotidianos e nos reflexos deles, em grandes episódios de violência.
De acordo com Lêda, em uma simples visita ao ginecologista já se pode ver em prática os papéis de gênero falocêntricos, heteronormativos e excludentes para o grupo. “O médico, ao perguntar se você tem vida sexual ativa, assume logo que é com homem”, conta. A partir daí, são conduzidos exames e anotados diagnósticos como se o órgão masculino estivesse presente na vida daquela paciente, quando não necessariamente estão.
“É preferível para a sociedade que a mulher tenha um homem ao seu lado, mesmo que ele bata – do que se assumir lésbica”, conta a ativista. O preconceito pode levar a consequências drásticas, como os chamados ‘estupros corretivos’ – quando homens violentam mulheres homossexuais para “corrigir” sua orientação, tentando transformá-las em heterossexuais -, agressões e até mortes. Uma pesquisa recente do Instituto Patrícia Galvão mostra que o número de lesbocídios no Brasil apontou um aumento em 237% nos últimos três anos.
Para externar e combater esses comportamentos enraizados é que é tão importante haver união e organização do grupo “L” da sigla “LGBT”. “As mulheres não aceitavam mais ser excluídas, tratadas de forma fetichizada, ou como relacionamentos fruto de frustrações com homens”, afirma a pesquisadora. A partir dos anos 90 até os dias de hoje, onde se pode ver o conservadorismo misógino e lesbofóbicos voltando à tona, “elas mostraram que estavam ali, que são importantes, que a lesbianidade existe, que é uma prática totalmente normal e que merece respeito na sociedade”.