
A centenária Comunidade Quilombola Santo Antônio dos Coelhos, localizada em Vargem Grande, no Maranhão, denuncia um cenário de violência crescente em seu território.
Moradores relatam desmatamento, intimidações e ameaças de morte contra lideranças locais, em um processo que se intensificou nos últimos quatro anos. Há, inclusive, suspeitas de que máquinas usadas na devastação pertençam ao poder público.
Segundo os quilombolas, a situação se agravou na semana passada, quando homens armados chegaram acompanhados de equipamentos pesados para abrir áreas de mata e instalar cercas.
“A comunidade foi surpreendida. Não sabemos se essas ações são legais ou ilegais, mas até agora não houve nenhuma resposta dos órgãos competentes”, afirmou Osmar da Conceição Almeida, morador da região, em entrevista ao Dedo de Prosa, da Agência Tambor. Ele esteve no programa em companhia de José Carlos da Conceição Almeida, que também reside no local.
[Veja entrevista na íntegra ao final desta matéria.]
Os moradores lembram que órgãos como o Incra e a Promotoria Agrária já estiveram no local, mas nenhuma providência foi tomada.
“Desde março, quando recebemos visitas oficiais, não tivemos retorno. O processo está no Ministério Público Federal e seguimos sem respostas”, disse José Carlos da Conceição Almeida.
Tratores invadem a região
As ameaças, de acordo com os relatos, são constantes. Seis pessoas da comunidade já foram incluídas em programas de proteção do Estado. “Temos boletins de ocorrência de ameaças de morte, mas nenhuma medida foi aplicada. Isso deixa as pessoas vulneráveis e com medo”, contou Luís Celso Martins Coelho.
Além da violência direta, o impacto ambiental preocupa muito. O desmatamento ocorre próximo às casas, afetando a saúde e a subsistência das famílias. “O que está acontecendo prejudica os riachos, a produção agrícola e o clima da comunidade. A poeira já chega a invadir as residências”, disse Osmar.
Segundo os quilombolas, a rotina da comunidade mudou drasticamente. O medo de circular sozinho, a redução das celebrações coletivas e o convívio limitado com visitantes se tornaram parte do cotidiano. “É triste ver uma comunidade que antes era alegre viver hoje sob ameaça”, lamentou Luís Celso.
Os entrevistados apelam por medidas urgentes. Entre os pedidos estão uma resposta clara do Incra sobre o processo em andamento, proteção efetiva às famílias e a garantia de que a justiça federal se manifeste sobre a disputa territorial. “Precisamos de esclarecimentos e segurança”, reforçou Osmar.
A comunidade possui certificações estadual e federal como território quilombola. Seus moradores destacam a história de resistência que remonta a antes de 1887, antes da abolição formal da escravidão.
Os quilombolas pedem que a sociedade acompanhe o caso e que as autoridades cumpram seu papel de garantir direitos. “Queremos apenas viver em paz em nossa terra”, concluiu José Carlos, e complementa: “Somos a sexta geração aqui. Sempre buscamos viver em harmonia com a natureza e de forma legal, mas agora enfrentamos uma situação inédita de violência”, destacou José Carlo.
Outro lado
A Agência Tambor entrou em contato com a prefeitura de Vargem Grande, o Ministério Público e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) sobre as denuncias e providências sobre a situação. Até o momento, não houve retorno. Assim que a equipe de reportagem obter uma resposta, esta matéria será atualizada.
👉 Assista a entrevista de Osmar da Conceição Almeida e José Carlos da Conceição Almeida, moradores do Quilombo Santo Antônio dos Coelhos, ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.