Do Blog Buliçoso
Por Flávia Regina Melo
25/03/2020
São cerca de 7,7 bilhões de habitantes na Terra e – para os “terraplanistas” – apenas 15 mil mortos, ou seja, “não há motivo para pânico”, “é uma gripezinha”. Minimizam vidas. Refutam o direito sagrado à vida. Desdenham de tratados internacionais, firmados em momentos de ascensão civilizatória, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos – “todo homem tem direito à vida” – e a, atualmente, tão desacatada Constituição Federal do Brasil, no artigo 5º, que garante o direito à vida como inviolável.
São genocidas como Hittler e Mao Tsé-Tung. São necropolíticos, necroinvestidores, necrojornalistas. São fanáticos seguidores do deus mercado que revela, neste momento de crise mundial, sua impotência para conter o avanço de uma pandemia que já deixa, até a data de hoje (24), 30% da população mundial em reclusão absoluta. 50 trilhões de dólares circulando no planeta, porém, incapazes de comprar a cura para uma doença. As engrenagens das máquinas do mercado estão sem as peças humanas, recolhidas com medo de serem trituradas por um vírus letal e avassalador. No período nazista, as câmaras de gás. Na globalização, organismos acelulares que agora corroem corpos humanos, organizações, mercados financeiros, empresas, instituições e a vida em sociedade, em efeito cascata. É a pior denotação da metáfora do bater de asas de uma borboleta em Pequim que provoca efeitos aqui em São Luís.
6 mil mortos na Itália. Mais de 3 mil na China, 2 mil, 600 e alguns falecidos na Espanha, até o momento em que as teclas deste notebook são acionadas. Os números são atualizados a cada instante. Por trás de cada número, uma história de dor, tristeza, de cadáveres que não têm onde serem sepultados, de idosos abandonados, de pessoas que morrem sem uma despedida, em uma guerra mundial onde não há nações vencedoras, todas perdem.
Mas os que creem na emissão dos trocados, na santa igreja dos lucros, na eternização da carne preferem defender que as empresas não podem parar. Os profissionais da informação adoecida divulgam que “não há motivo para pânico”, que “a letalidade do vírus é baixa em comparação com outras epidemias”. E quem se arrisca a contrair um Covid-19, sem saber se é do “tipo gripezinha” ou “tipo passaporte para o além”?
Os abutres são mais coerentes porque se alimentam dos mortos. Personagens como Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, Roberto Justus e outros pregam, não em defesa de cuidados e da prevenção, mas defendem indiretamente a morte pela morte. Integram o coro dos corvos de gravata. São zumbis, mortos vivos que perambulam pelo limbo, cegos diante de valores como a dignidade humana e o direito fundamental à vida.