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Cadê as escolas do povo Awá Guajá?

Coletivo Japua denuncia as condições precárias da escolas na Terra Indígena Caru, em Bom Jardim

Professores Awá Guajá denunciam que as escolas prometidas para a Terra Indígena Caru, em Bom Jardim (MA), seguem sem condições mínimas de funcionamento, apesar de obras iniciadas em 2019 e de reivindicações que vêm desde 2017. Sem salas adequadas, sem água, sem ventilação e até sem cadernos, centenas de alunos seguem privados do direito constitucional à educação.

O Coletivo Japua e a Rede Liberdade de Advogados de Direitos Humanos relatam uma série de violações, que incluem prédios inacabados, estruturas que oferecem risco à integridade física dos estudantes e ausência de respostas do Governo do Estado. O caso foi relatado em entrevista ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.

O povo Awá Guajá afirma esperar há anos pela entrega de escolas que nunca foram concluídas pela Secretaria de Educação do Maranhão (Seduc). As primeiras articulações ocorreram em 2017, e as obras começaram em 2019, mas, segundo os professores, nada foi finalizado. “A escola foi construída mal feita, não tem condições, não funciona o ar-condicionado e é muito quente. A gente não aguenta ficar dentro da sala”, relatou o professor Catutá.

Atualmente, a escola da aldeia Juriti possui apenas duas salas para atender 74 alunos, com professores se revezando no espaço e aguardando uns pelos outros para conseguir dar aula. “Ficamos esperando terminar uma aula para começar outra. Os alunos atrasam, e tudo vira um improviso”, explicou o professor Itatiá. Segundo eles, materiais básicos também não chegam. “Não tem caderno, não tem caneta, não tem carteira suficiente”, reforçou.

Além da estrutura precária, banheiros não funcionam e não há ventilação adequada. Os professores relatam que, nos dias mais quentes, as crianças precisam sair da sala para respirar. A merenda escolar também é comprometida pela falta de espaço. “A cozinha é muito pequena e quente demais. As merendeiras não têm condições de trabalhar direito”, disse Amíria Awá Guajá.

A situação se repete em outras aldeias da Terra Indígena Caru. Em Tiracambu, há apenas uma sala, e as turmas precisam se revezar para estudar. Na aldeia Cachoeira, a ausência de prédio escolar obriga crianças a fazer longos trajetos, enfrentando atoleiros no inverno e poeira forte no verão. “A gente precisa de uma escola lá também. As crianças passam dificuldade para chegar até a aula”, explicou Amíria.

Segundo a advogada Dalisa Caroline, da Rede Liberdade, o caso configura violação sistemática do direito à educação. “Os espaços entregues não têm estrutura mínima. Já houve risco de parte do prédio cair. Não existe ventilação, água potável, nem materiais pedagógicos básicos. Como as crianças vão aprender sem caderno e sem lápis?”, questionou. Ela afirma que a Rede encaminhou denúncias à Secretaria de Direitos Humanos do Maranhão e acompanha o caso junto ao Ministério Público Federal.

Os Awá Guajá já enviaram vários documentos à Seduc, à Funai e ao MPF, mas dizem que nunca receberam retorno efetivo. “A gente manda tudo, mas ninguém responde. Já esperamos demais. Queremos conversar pessoalmente com quem tem responsabilidade”, reivindicou Itatiá. Os professores pedem a presença do MEC, da Seduc e do Ministério Público na aldeia, para que vejam a situação de perto.

Entre as principais demandas do coletivo estão a construção de oito salas de aula, cozinhas amplas, banheiros funcionais, perfuração de poços e fornecimento de água, além de casas de apoio para professores que viajam longas distâncias. “Não queremos nada além do básico. Os alunos só querem aprender”, disse o professor Coral.

A advogada reforça que o Maranhão precisa alinhar seu discurso público à prática. “Estamos saindo de uma COP que discute proteção ambiental enquanto os próprios guardiões da floresta não têm o direito fundamental à educação garantido. É incoerente e inaceitável”, afirmou.

O outro lado

A Agência Tambor entrou em contato com a Secretaria de Educação do Governo do Estado solicitando posicionamento oficial sobre o cenário descrito. A versão da Seduc será acrescentada à matéria assim que houver resposta.

Assista a entrevista na íntegra dada ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor, pelo Coletivo Japua e pela Rede Liberdade de Advogados de Direitos Humanos.

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