
A Aldeia Esperança, localizada na Terra Indígena Geraldo Toco Preto, no município maranhense de Itaipava do Grajaú, sediou segunda (11) uma audiência pública para tratar das graves deficiências nos serviços de saúde e educação que afetam a comunidade indígena. A reunião é resultado de uma articulação entre o Conselho de Lideranças da aldeia, o Comitê de Solidariedade à Luta pela Terra (Comsolute) e a Associação Brasileira de Advogados do Povo – Seção Maranhão.
O encontro reuniu lideranças indígenas, representantes de movimentos sociais e assessores jurídicos. Mesmo após anos de denúncias, moradores relatam que a situação continua crítica.
Na quinta (8) Fábio Dias Souza e Rhjwaa Krepym, lideranças da Aldeia Esperança, bem como o advogado Thiago Cruz, assessor do Comitê de Solidariedade à Luta pela Terra (Comsolute), participaram do programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor, falando sobre o cenário e adiantando as cobranças que foram pautas da reunião.
“A gente está há sete anos lutando para ter, pelo menos, uma escola estruturada e professores suficientes. É muito desgastante”, afirmou Fábio durante a conversa.
Entre as principais queixas apresentadas estão a falta de professores para atender todas as turmas, ausência de material didático, carteiras e quadros adequados, além da precariedade no transporte escolar. A situação afeta também jovens do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), que permanecem sem aulas. “Se na cidade tem educação, por que a gente não pode ter dentro da aldeia? É um direito garantido por lei”, questionou Rhjwaa Krepym.
Na área da saúde, as demandas incluem exames pendentes, demora para consultas com especialistas e dificuldade de acesso a medicamentos. Os indígenas também denunciaram falhas na segurança alimentar, agravadas desde a pandemia, e a falta de acesso a programas sociais básicos. “A gente não está pedindo favor. Estamos cobrando direitos”, reforçou Fábio.
Durante a entrevista, o advogado Thiago Cruz, assessor do Comsolute, destacou que o evento foi um momento de organização das lideranças locais e de coleta de provas para acionar o Ministério Público. Ele não descartou a possibilidade de federalizar o caso, diante das reiteradas omissões do poder público. “Há um diploma internacional, como a Convenção 169 da OIT, que o Brasil é obrigado a cumprir. Se for preciso, vamos levar essa denúncia à ONU”, declarou.
Os relatos também chamaram atenção para a gravidade de doenças como o câncer na comunidade, que já provocou diversas mortes recentes. “Isso é uma pandemia silenciosa. Precisamos descobrir as causas e ter acesso a tratamento digno”, disse Fábio.
Confira a entrevista, na íntegra, concedida ao programa Dedo de Prosa, da Agência Tambor.