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Anacleta Pires da Silva: Líder quilombola deixa um legado em favor da vida

Foto: Joércio Pires

Em uma sociedade capitalista marcada pelo consumo alienado, individualismo, ostentação e violência, existem muitos focos de resistência. Um deles está no município de Itapecuru-Mirim, no Maranhão, no Quilombo Santa Rosa dos Pretos.

A educadora Anacleta Pires da Silva faleceu na manhã de terça-feira (17/09). Ela era uma das lideranças do Quilombo.

Filha dos trabalhadores rurais Libânio Pires e Adalgisa Pires, tornou-se uma referência na luta pela vida, por igualdade e justiça social, pelo respeito e convivência harmônica com a natureza, defensora da nossa cultura e dos modos de vida dos seus ancestrais.

Anacleta começou cedo a participar das lutas e dos movimentos sociais e políticos em defesa dos direitos dos povos pretos, indígenas e comunidades tradicionais.

O significado de sua vida sempre foi de “luta e perseverança”. A última batalha começou no dia 8 de março deste ano, exatamente no Dia Internacional de Luta da Mulher, quando iniciou um tratamento oncológico no Hospital Aldenora Bello, em São Luís, para tratar um câncer de mama, diagnosticado no final de fevereiro.

Anacleta | Foto: Veronica Falcón

Nascida da força da encantaria, da luta por territórios livres, ela deixa um legado, em especial para mulheres negras, contra a exclusão racial no Brasil e em defesa da vida.

A luta da quilombola iniciou aos 18 anos, pela regulamentação fundiária do Quilombo Santa Rosa dos Pretos, às margens da BR-135, pela construção de poços artesianos e pelo resgate memorial e histórico do seu território e da sua gente.

“Acompanhei meu pai desde os sete anos em todas as reuniões e lutas”, narrava a líder.

Junto com outras mulheres, ela travou uma luta árdua contra a falta d’água, provocada na região com a construção da Ferrovia dos Carajás pela Vale e pela duplicação da BR-135, quando os igarapés foram cimentados.

Em São Paulo, foi figura marcante na divulgação da campanha “Rega Santa Rosa”, que reivindica a construção de 15 poços em nove comunidades quilombolas no território de Santa Rosa dos Pretos.

Ao lado de Dona Dalva, trabalhadora rural e descendente de escravos, e Fernanda Cabral, ativista mineira que vive em São Paulo e porta-voz do projeto “Rega Santa Rosa”, Anacleta percorreu o Brasil levando a campanha, as histórias e as músicas do quilombo para arrecadar fundos.

Foto: Sabrina Duran

A líder quilombola ensinava a nunca desistir: “Por falta de dinheiro, é difícil rodar o Brasil, mas sempre que possível propagamos as informações dos conflitos que existem dentro da nossa comunidade, não só pela água, mas também por educação, saúde e moradia”.

Entre tantas batalhas, a ativista conseguiu cursar o ensino médio e fez graduação em Pedagogia da Terra junto com seus filhos na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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Agora que Anacleta ancestralizou, deixou este plano. Ficam a sua sabedoria, os seus ensinamentos, a sua fé e a perseverança de que “a luta requer muito a sensibilização para o convencimento, não dá para enfrentar de forma agressiva, mas, sim, fazer com que as pessoas se sintam parte desse processo”, ensinava a líder.

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