A violência doméstica e familiar é um problema no Brasil. Mais de 250 mil casos foram registrados no país em 2023. Os números são do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública que revelou dados preocupantes sobre o cenário.
Buscando sensibilizar a sociedade sobre o tema e, principalmente, trabalhando para sua superação, aconteceu, em São Luis, nos dias 21 e 22 de novembro, a casa-exposição Nem Tão Doce Lar.
A exposição itinerante e interativa leva ao espaço público a representação de uma casa familiar com pistas que denunciam a violência sofrida por mulheres, crianças, jovens, pessoas idosas, pessoas com deficiência e comunidade LGBTQIAPN+.
Além da exposição, durante o evento aconteceram rodas de conversas para discutir sobre o enfrentamento desse quadro.
Para falar sobre o assunto, o Jornal Tambor de sexta-feira (22/11) entrevistou Franciele Vanessa Sander e Rogério Oliveira Aguiar.
Franciele é pastora da Comunidade Evangélica Luterana de São Luís.
Rogério é teólogo e assessor de projetos em Direitos Humanos na Fundação Luterana de Diaconia (FLD).
(Veja, ao final deste texto, a íntegra da entrevista de Franciele e Rogério)
Segundo a pastora, é fundamental que a sociedade discuta sobre as diversas violências que crianças, jovens, mulheres e idosos passam dentro de casa.
Uma outra questão levantada pelos entrevistados é que na maioria dos casos de violências registrados, a vítima não consegue reconhecer que está sofrendo agressões verbais ou psicológicas.
“É muito importante que haja espaços de discussões, por isso que a iniciativa da casa-exposição é necessária para que a comunidade não se cale diante desse problema”, afirmou Franciele.
Para Rogério é urgente que se trabalhe a prevenção e a ideia de uma rede de apoio para vítimas de violências.
O teólogo falou que “a sociedade civil precisa estar junto para pautar as necessidades concretas do cotidiano dos grupos. O desafio que a gente tem hoje é esse, o fortalecimento das redes para garantir a aplicabilidade da legislação de proteção de pessoas vítimas de violências”.
A iniciativa é da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e em São Luís irá ocorrer em parceria com a Casa da Mulher Brasileira, Faculdade Edufor, grupo ETC da UFMA, Conselho Regional de Serviço Social 2a Região (CRESS), Defensoria Pública do Estado do Maranhão e Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em São Luís. A ação mobiliza para a Campanha 21 Dias de
Ativismo pelo fim do Racismo e da Violência contra mulheres, que vai do dia 20 de novembro a 10 de dezembro.
Sobre a exposição
Esta não é a primeira vez que a Nem Tão Doce Lar chega ao Maranhão e em sua capital: em 2022, a casa-exposição esteve em São Luís. E nos dias 13 e 14 de novembro deste mesmo ano, a iniciativa esteve em Balsas (MA), dando início às atividades no estado, onde mais de 300 estudantes e público geral visitaram a exposição.
Em 2024, a Nem Tão Doce Lar também esteve nas cidades de Santa Maria de Jetibá, Vitória e Afonso Cláudio (ES). Ao total, mais de 900 pessoas visitaram a casa-exposição e 150 pessoas dos equipamentos públicos participaram das Oficinas de Formação. As atividades irão se encerrar no município de Santa Cruz do Sul (RS).
Sobre a Nem Tão Doce Lar
A Nem Tão Doce Lar envolve uma metodologia de intervenção coletiva para a superação da violência doméstica e familiar, tema tantas vezes invisibilizado e naturalizado. Além de popularizar o debate, busca atuar na incidência pela efetivação de políticas públicas, na constituição de redes de apoio nos municípios e no empoderamento de grupos. O nome Nem Tão Doce Lar faz alusão à citação “Lar doce Lar”, muito comum em casas brasileiras.
A mostra nasceu a partir de uma exposição internacional chamada Rua das Rosas, criada pela antropóloga alemã Una Hombrecher, com o apoio da agência Pão para o Mundo (PPM). A proposta inicial, que tinha ainda uma linguagem europeia, foi apresentada em Porto Alegre, de 14 a 23 de fevereiro de 2006, durante a 9ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Essa primeira exposição esteve sob a coordenação da FLD, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e um consórcio de organizações da sociedade civil que atuam denunciando e construindo possibilidades de superação da violência. Posteriormente, a partir de um amplo processo de construção coletiva, a exposição recebeu um enfoque brasileiro.
A Nem Tão Doce Lar já percorreu mais de 95 municípios em 15 estados brasileiros.
Campanha 21 Dias de Ativismo
Em 1991, mulheres de diferentes países iniciaram uma campanha com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo. Esse conjunto de datas ficou conhecido como a campanha de 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres.
O início da mobilização mundial, com adesão de mais de 130 países, é marcado pela data de 25 de novembro, instituída como o Dia Internacional de Luta pelo fim da Violência Contra a Mulher. A data foi criada em memória e homenagem a Pátria, Minerva e Maria Teresa, as irmãs Mirabal, brutalmente assassinadas pelo governo de Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana, em 1960. As irmãs atuavam contra a ditadura vigente naquele país.
No Brasil, a campanha ocorre desde 2003 e é chamada de 21 Dias de Ativismo, porque começa no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. A mobilização termina em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
(Confira abaixo a edição do Jornal Tambor, com a entrevista completa de Franciele e Rogério)