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Ainda somos os mesmos?

Por Paulo Vinicius Coelho
19/08/21

É aterrorizante perceber que Manoel da Conceição, torturado pela ditadura, morreu num período em que defensores do regime militar nos governam, trinta e seis anos após a redemocratização.

Em 1968, quando era presidente do sindicato de trabalhadores rurais que havia fundado há cinco anos, Manoel da Conceição foi baleado e preso pela Polícia Militar de José Sarney. Sem atendimento, teve sua perna amputada. Depois, o então governador lhe ofereceu vantagens materiais para que ficasse calado. O líder camponês rejeitou. Desse episódio surge a famosa frase: ‘’minha perna é minha classe’’.

Manoel conta na revista Teoria e Debate que o sindicato fundado por ele foi enganado pela promessa de uma reforma agrária e acabou apoiando a eleição de Sarney para o governo estadual em 1965.

Entretanto, não foi por engano que a direção nacional do PT – partido fundado por Manoel da Conceição – contrariou o diretório estadual e decidiu apoiar Roseana Sarney em detrimento de Flavio Dino na disputa pelo governo do Maranhão em 2010, mas sim por fisiologismo. Na época aos 75 anos, na cadeira de rodas e já desgastado pela violência sofrida durante toda a vida, Manoel fez uma greve de fome em protesto a determinação do partido de apoiar a oligarquia.

O nosso Mané era antes de tudo um forte, como diria Euclides da Cunha. Detentor de uma coerência, de uma grandeza e de uma coragem enormes.

Foi preso diversas vezes pela ditadura e brutalmente torturado, como revela a Comissão Nacional da Verdade.

Sobreviveu, venceu. Além do PT, ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central de Cooperativas do Maranhão, a União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar, o Centro Nacional de Apoio às Populações Tradicionais.

Mas a luta de Mané não foi encerrada. Sua inspiração deve continuar nos guiando na defesa da justiça social. Tampouco a violência, esta chaga que perpassa a história do Brasil e foi protagonista no regime militar, findou com a redemocratização. A transição mal feita e a impunidade de militares faz com que a herança do autoritarismo continue pulsando.

Manoel da Conceição, perseguido, torturado e exilado pela ditadura, nos deixa num período em que a presidência da República é ocupada por um facínora defensor do legado de morte e crueldade deixado pelos militares. Jair Bolsonaro, inclusive, costuma fazer homenagens a Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ao mesmo tempo, grupos de extrema-direita atacam a democracia e pedem uma nova intervenção militar. Nesse cenário, eu somo a pergunta que intitula esta reflexão a uma outra: não aprendemos nada com a nossa história?

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