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Brincadeiras maranhenses de Carnaval resistem à onda de shows “nacionais”

Por Raquel Luiza Álvares Pinto

A falta de valorização das brincadeiras de carnaval é uma problemática antiga da cultura maranhense. Os brincantes costumam alegar a falta de espaço dada pelas autoridades, além dos baixos cachês e valores das premiações, bem como o atraso na entrega das verbas destinadas aos grupos, o que atrapalha a organização das apresentações a tempo.

Com a vinda de grandes nomes da música nacional, como Anitta, Henry Freitas, Jorge e Mateus, Gloria Groove e Wesley Safadão para o carnaval maranhense, os desafios enfrentados pelos brincantes têm sido cada vez maiores, uma vez que precisam competir, de forma desigual, por espaço, visibilidade e investimentos.

“O desafio maior que a gente tem é a questão do poder público, de não se preocupar tanto com a nossa cultura. Sempre dando a preferência para cantores de fora, dispara Silvana Fontinele, atual responsável pelo bloco “Os Brasinhas”, que também reclama dos valores baixos destinados à cultura popular local: “A gente tem sempre que estar brigando, correndo atrás, tentando melhorar, porque o valor que a gente recebe não é suficiente para o que a gente gasta”, avalia.

Embora o bloco esteja nas ruas nos quatro dias de carnaval, o desfile dos blocos tradicionais na passarela será uma semana depois, o que segundo ela é ruim para o bloco, tendo em vista que é o momento em que os brincantes usam a fantasia nova e dessa maneira, só irão usar novamente no final do ano ou no próximo carnaval.

“A verba do carnaval eles praticamente liberaram uma semana antes da escola passar na passarela, então acaba que as escolas vão para a avenida, na correria. As coisas não ficam cem por cento”, justificou Josilene Gomes, madrinha de bateria e coordenadora da ala das passistas da escola de samba Turma do Quinto.

A passista também lamenta a falta de um olhar dos gestores públicos mais cuidadoso com a cultura local. “Hoje, aqui, o maior desafio das escolas se manterem é a falta valorização dos governantes, porque eles valorizam quem vem de fora, os famosos, e os daqui eles não valorizam”, comparou.

Preparação de figurinos na sede do bloco. Foto: Raquel Luiza

Essa falta de apoio também é sentida nos chamados blocos tradicionais de São Luís. Esses grupos culturais são manifestações que alegram o carnaval da cidade há mais de um século. A mistura dos sons de diversos instrumentos, o colorido dos figurinos dos brincantes, assim como a animação de quem compõe o bloco, contagia a todos à sua volta. Exclusivos do carnaval do carnaval maranhense, os blocos tradicionais são diversificados, mas possuem em comum a resistência e a persistência em manter a brincadeira, mesmo diante de todos os desafios enfrentados, para que a tradição, que muito agrega à cultura do estado, continue se perpetuando de geração para geração.

“Os Brasinhas” são um exemplo de bloco tradicional da capital. O bloco, que é um dos mais antigos da cidade, começou com três jovens: Joanilson, Tadeu e Zé Leite, que tinham o desejo de criar uma brincadeira de carnaval para o bairro do Desterro, que até então não tinha nenhuma. O grupo foi fundado em fevereiro de 1977 e há quase 50 anos de história, leva alegria para o carnaval maranhense.

Silvana Fontinele, atual responsável pelo bloco, este é como um filho para ela, que assumiu a direção em 1989, quando “Os Brasinhas” já tinha 12 anos. Hoje, depois de 36 anos, segue lutando para que a manifestação cultural se mantenha. Ela conta que atualmente o grupo é composto por muitas crianças e que essas, muitas vezes, vestem mais a camisa do que os próprios pais, avisando-os dos ensaios e da importância de se apresentar.

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Maria do Rosário Everton

Sem dúvida a necessidade urgente de valorização da cultura do povo maranhense que vem mesmo sem ajuda do poder público lutando para que essa cultura seja mantida de geração a geração. E muito importante a participação dos meios de comunicação nessa luta pela preservação do nosso patrimônio cultural.

Camilla

Muito interessante!!

Maria do Rosário Everton

Parabéns pela reportagem. Saudades do tempo da casinha da roça, do fofão, desfile dos blocos tradicionais na passarela do samba no sábado de carnaval, desfile das escolas de samba no domingo de carnaval, blocos organizados, …. Salve a cultura maranhense!!! Parabéns a todos que mantém viva essa tradição mesmo sem apoio do poder público.

Diana Noleto

Excelente texto! Parabéns Raquel!!!Essa é uma pauta muito importante!!


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